Voltei para o quarto no meio da madrugada.
Ela estava onde eu a deixei: deitada no sofá, enrolada em uma coberta fina, com os olhos grudados no computador. Não desviou o olhar nem por um segundo quando entrei, como se eu fosse invisível.
Melhor assim.
Entrei no banheiro e encarei minha mão debaixo da luz branca. O corte não foi fundo, mas foi o suficiente.
O sangue ainda manchava a lateral dos dedos.
Ardia.
Mas não como o incomodo crescendo no meio do peito.
Lavei o ferimento em silêncio. Água fria. Sabonete. Curativo simples. Fazia anos que eu não sangrava assim por ninguém. E agora tava ali, limpando uma ferida que eu mesmo causei... Para proteger a porra da honra de uma garota que eu nem pedi para casar.
Quando sai, ela ainda estava lá, imóvel.
Nenhuma palavra, nenhum olhar.
Puxei o lençol sujo de sangue da cama e joguei na porta. Alguém pegaria e perduraria essa porcaria. Cobri o colchão e lancei um olhar rápido na direção dela.
— Vem deitar.
Ela não respondeu. Nem um movimento.
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