Quando a carroça finalmente parou em frente aos portões do palácio de Durang, Eliara sentiu o estômago apertar. Era como se uma enorme pressão se tivesse instalado sobre seus ombros, e ela não conseguia respirar direito. Ela olhou para as muralhas imponentes, que pareciam engolir o horizonte, e sentiu uma mistura de medo e desesperança. Durang era uma fortaleza de ferro e pedra, mas também era uma prisão invisível, onde a liberdade de seus habitantes havia sido tomada, e a única coisa que restava era se submeter àqueles que governavam.
Ela foi rapidamente separada dos outros prisioneiros, conduzida por dois guardas até o interior do castelo, onde o cheiro forte de incenso e os ecos das vozes dos serviçais enchiam o ar. Durang era um lugar frio e imenso, com corredores que pareciam intermináveis. O grande salão central exalava uma atmosfera de poder e controle absoluto, e Eliara sentiu-se pequena demais para sequer levantar os olhos.
Logo, ela foi conduzida aos aposentos de serviço, onde conheceu Sulla, uma ômega de idade mais avançada, mas com um olhar penetrante que parecia conhecer os segredos mais profundos do palácio. Sulla a observou em silêncio antes de se aproximar, seus passos silenciosos como uma sombra.
— Você está bem? — perguntou ela, com uma suavidade que não combinava com o ambiente tenso ao redor. Seu olhar parecia carregar uma mistura de empatia e experiência.
Eliara sentiu um nó na garganta, mas tentou não chorar. Sabia que não podia. Aquele lugar não tinha espaço para fraquezas. Apenas assentiu, balançando a cabeça em um gesto vago, e Sulla pareceu entender.
— Não há necessidade de palavras agora — disse Sulla, colocando a mão sobre o ombro de Eliara com um gesto que pretendia ser reconfortante. — Aqui, o silêncio é a nossa defesa.
Eliara sentiu um calafrio percorrer sua espinha. Ela não sabia se era a frieza do ambiente, a falta de calor humano, ou se era o peso da realidade que estava começando a entender. Durang não era apenas um império governado por alfas poderosos. Era um lugar onde a esperança morria lentamente.
Na manhã seguinte, Eliara recebeu sua primeira tarefa. Ela seria encarregada de levar o café da manhã ao rei, Valkar. A missão era simples, mas o peso de sua responsabilidade a deixou nervosa. Não era qualquer pessoa a quem ela servia. Era o próprio monarca de Durang.
Sulla a observou enquanto ela se preparava, seu olhar parecendo avaliar Eliara de cima a baixo.
— Cuidado com o que você sente, Eliara. O rei... ele não é como os outros. Ele é... diferente. Não se deixe enganar pelo que vê. — As palavras de Sulla ecoaram na mente de Eliara enquanto ela atravessava os corredores sombrios do castelo, sua mente repleta de incertezas.
Os passos de Eliara ecoaram pelo corredor enquanto ela se aproximava da porta dos aposentos do rei. O coração dela batia mais rápido a cada passo, e uma sensação indescritível de nervosismo a dominava. Ela não sabia o que esperar, mas algo em seu interior dizia que aquele encontro mudaria tudo.
Ao chegar à porta, o servo que a acompanhava abriu com um gesto suave e silencioso, como se o próprio ar do castelo fosse sagrado. Quando a porta se abriu, Eliara viu uma cena que a paralisou.
O quarto era imenso, iluminado por velas e incenso. Mas não foi isso que a fez parar. O rei Valkar estava ali, deitado na cama, com seu corpo imponente e musculoso à mostra, cercado por uma atmosfera de poder. Ao lado dele, uma mulher ômega estava deitada, com os cabelos dourados caindo suavemente sobre os ombros nuas. A cena era... intimidadora. O rei estava em completa dominância, e a mulher parecia submissa à sua vontade.
Mas o que deixou Eliara completamente desconcertada foi o olhar de Valkar. Quando ele a viu entrar, seus olhos, frios e profundos como o oceano, se fixaram nela. Era um olhar que, ao mesmo tempo, a desafiava e a envolvia de uma maneira quase imperceptível, mas poderosa. Eliara sentiu a boca secar, e por um instante, o ar ao seu redor pareceu ser tirado de seus pulmões. Era como se o próprio rei fosse uma tempestade, e ela estivesse prestes a ser consumida por ela.
Ela se apressou a colocar a bandeja sobre a mesa, mas seus olhos, involuntariamente, se fixaram novamente nele. Valkar, ao perceber seu olhar, um leve sorriso curvou os cantos de seus lábios. Mas não foi um sorriso amigável. Era mais como um reconhecimento silencioso, como se ele soubesse exatamente o que ela estava sentindo. Ele era um alfa com uma presença dominante, mas havia algo mais nele. Algo que deixava claro que ele controlava tudo ao seu redor — inclusive as emoções de quem o observava.
Eliara colocou a bandeja sobre a mesa e se retirou rapidamente, sentindo o peso da sua própria respiração e o calor que se espalhou por sua pele. Seu corpo tremia, e ela não sabia como reagir à sensação de descontrole que o olhar do rei provocava.
Lá fora, Sulla estava à espera. Ela sorriu ao ver Eliara, que parecia atônita.
— Então, você o viu. — Sulla disse suavemente, como se entendesse o que estava acontecendo na mente de Eliara.
— Eu... — Eliara engoliu seco, ainda sem saber o que pensar. — Ele tem uma presença...
Sulla sorriu, um sorriso triste, quase melancólico.
— É mais do que isso. Valkar não é apenas o rei. Ele é um alfa de uma força incomum. Ele... deixa um impacto. É impossível não perceber quando ele está por perto. Mas cuidado, Eliara. O olhar dele é como fogo. Pode te queimar, se você não souber lidar.
Eliara ficou em silêncio, suas mãos tremendo ligeiramente enquanto ela tentava processar as palavras de Sulla. O desejo que sentira ao vê-lo parecia algo que ela não conseguia entender completamente, e ao mesmo tempo, algo que a assustava.
A noite chegou rapidamente, e com ela, uma tensão crescente. Enquanto Eliara caminhava pelos corredores, sentiu os olhares dos outros serviçais sobre ela, e o próprio olhar do comandante-chefe da guarda real a observou enquanto ela passava. Ela não sabia o que ele pensava, mas havia algo na forma como ele a encarava — algo que a fazia se sentir mais do que uma simples ômega.
Quando chegou ao seu alojamento, foi surpreendida por um grito que ecoou nos corredores. Uma ômega estava furiosa, suas palavras enchendo o ar de raiva.
— Você não sabe o seu lugar! — a voz feminina gritou. Eliara reconheceu a mulher como sendo a mesma que estivera com Valkar.
— Você acha que pode tomar o meu lugar? — A mulher a encarou, seu rosto tingido de raiva. — Você não sabe quem está diante de você!
Eliara não sabia o que responder. Ela sentia uma mistura de desconforto e um desejo inexplicável de se afastar rapidamente daquele lugar. Mas Valkar que também estava presente no lugar, não absolutamente fez nada para impedir a mulher de se aproximar de Eliara. Ele apenas a observava, como se estivesse apreciando o desenrolar da cena.
A mulher, que Eliara finalmente reconheceu como Kora, a ômega favorita do rei, se aproximou mais, seus olhos cheios de fúria. Ela estava visivelmente furiosa, a raiva transbordando de seu corpo, e Eliara não sabia o que fazer.
— Saia do meu caminho, ômega inútil! — Kora gritou, e suas palavras cortaram o silêncio da manhã com uma intensidade aterradora.
Os olhos de Valkar continuaram fixos em Eliara, mas ele permaneceu em silêncio. Ele não interveio, nem tentou impedir que Kora descarregasse sua ira.
Eliara, sentindo-se completamente deslocada, abaixou a cabeça. Ela não entendia o que estava acontecendo. O que ela fizera para merecer tamanha raiva de Kora?
Sulla apareceu atrás de Eliara, a expressão de quem já sabia o que aconteceria. Ela colocou uma mão gentil nas costas de Eliara, empurrando-a ligeiramente para o lado, e a outra ômega a encarou, furiosa.
Kora, percebendo que sua raiva não estava sendo combatida, começou a gritar ainda mais. Seu rosto estava vermelho de raiva, e seus olhos estavam fixos em Eliara com um ódio profundo. Ela parecia disposta a descarregar toda a frustração acumulada no momento.
— Você pensa que ele vai olhar para você? Você acha que vai substituir a mim? Não vou permitir! — Kora continuou a gritar, e Eliara sentiu-se como se estivesse sendo empurrada para o fundo de um abismo emocional.
Eliara não sabia como reagir. Ela apenas ficou ali, imóvel, aceitando cada palavra como se não tivesse outro caminho senão se submeter. Ela não sabia se era por medo, confusão ou algum outro motivo, mas o olhar do rei, silencioso e impassível, parecia estar fixado nela, observando tudo como se fosse uma peça em um jogo de xadrez. Ele não disse nada, mas havia algo em seus olhos que fazia Eliara sentir que ele sabia exatamente o que estava acontecendo, e que não era um simples espectador. Ele era o mestre de tudo aquilo.