Mundo ficciónIniciar sesión— E meus pais biológicos? O que aconteceu com eles — perguntei, sem aguentar: falaram de tudo, menos deles. — Não vieram com você para me proteger também?
— Ah, eles estão loucos para te ver, estão aguardando no Reino Elyandor. Eles queriam vir, mas não deixei — diz ele, bem firme. — Por quê não? — Minha voz sai fraca, como se qualquer esforço a mais me fizesse desmanchar novamente. — Emma, olha para mim — Olhei na sua direção. — Esse mundo é frágil, nossos poderes não funcionam corretamente, mas quem quer te fazer mal é muito; não conseguiria te proteger **e** aos seus pais ao mesmo tempo. — Entendo. — Na verdade, não entendia nada; só estava cansada. Meus pais não são meus pais — mesmo assim, eu os amo muito. Sei que não vou deixar de amá-los, mas estou tão chateada neste momento. Minha melhor amiga sabia de tudo; me machuca ainda mais. Eu nunca escondi nada dela; pensei que seria recíproco. Aparentemente, ela também é minha guardiã, junto com meus tios. É tudo tão confuso. — Podemos ir, Aiden? — pergunto, já ouvi o bastante por hoje. — Claro, vamos. — Ele percebe que não quero mais conversar sobre o assunto; estou exausta, pensando em tudo e nada ao mesmo tempo. Saímos da minha velha casa na árvore e fomos caminhando devagar em direção à minha casa. O ar estava frio, carregado de orvalho, os galhos rangendo sob nossos passos lentos. Antes de chegarmos, sinto ele me puxando para trás. Nesse movimento, por um momento, consigo ver meus pais, meus tios e minha amiga sendo cercados por cinco homens com varinhas apontadas para eles. Não vejo claramente seus rostos, mas sinto o perigo. Meu tio faz uns movimentos em círculo, e de repente estamos em uma bolha, muito parecida com a que fiz mais cedo. A superfície da bolha cintila, reflete o céu límpido e as folhas das árvores acima. É como se estivéssemos protegidos por uma membrana invisível, mas tensa, vibrando com energia. — O que está fazendo? Temos que ajudá‑los — digo enquanto esmurro a bolha. A madeira do meu punho b**e numa parede de energia translúcida, um som oco. — Não, Emma, não podemos. Minha prioridade é te tirar daqui; eles não podem te pegar. — Ao mesmo tempo que ele fala, sinto uma pontada no coração, e sei que algo está errado. Quando me viro para olhar a cena de novo, vejo meus pais caídos no chão. Meus tios cercam Luiza em modo de proteção; ela está tremendo. Sinto o peito apertar, uma mistura de medo e culpa. Meu olhar volta para meus pais: eles estão no chão, imóveis, silenciosos. O vento parece rolar folhas secas pelo gramado, mas não ouço nenhum som vindo deles. — Emma! Volte, você precisa voltar — grita Aiden, com urgência na voz. Eu sei que ele está falando, mas não consigo me associar, não consigo ouvir. Então grito com toda a minha dor, toda a minha angústia: — NÃOOOOOOOOOOO! Só sinto a magia sair do meu corpo. Tudo parece girar. Não controlo nada. Lanço um raio azul nos homens de preto; cada um voa para um lado, é lançado longe, batendo contra árvores, tombando no chão. Ouço o estalo da madeira, o choque da pedra. Meu corpo pesa. Tento correr até meus pais, e choro. Estou me sentindo tão fraca, mas não me afasto deles, não importa o quanto minhas pernas tremam. Só quero estar perto. Sinto meus olhos arderem, a garganta seca, lágrimas quentes descendo pelo rosto. Então, meus olhos se fecham. Me entrego à escuridão da exaustão. --- Quando acordo, não sei quanto tempo se passou. Há silêncio e uma luz pálida, filtrada pelas frestas de uma janela. Estou deitada num quarto que parece hospitalar, mas tem traços mágicos: cortinas com fios prateados que refletem estrelas invisíveis, tapete que parece flutuar levemente sob meus pés, cheiro de poeira antiga misturado a orvalho. As paredes são altas, arcos curvados, como num templo, mas há conforto: almofadas macias, mantas de tecido leve cobrindo‑me. Alguém segura minha mão. Abro os olhos devagar. Aiden está sentado ao meu lado, com expressão grave; luta para sorrir, mas não consegue. Meus pais e meus tios estão ali — Luiza também. Alguns têm ferimentos: cortes, respiração ofegante, olhares confusos, mas vivos. Ver que respiram me dá um alívio tão grande que me deixa tonta. — Emma... — ele sussurra. — Você está bem? — Estou viva — respondo, com voz tremida. — É isso que importa? Aiden aperta minha mão. — Sim. É o que importa. Você fez... algo incrível. Não sei explicar direito, mas sua magia... — Ele para, como se buscasse as palavras certas. Meu pai meneia a cabeça lentamente, e minha mãe também. — Obrigado — diz meu pai, a voz fraca. — Obrigado por… nos salvar. Minha mãe ergue as mãos, as palmas tremendo. — Emma, filha... — ela engole em seco. — Eu sempre soube, de alguma forma... As palavras ficam presas no ar. Não sei o que responder. Não sei nem o que sinto: gratidão, amor, confusão, tristeza. Tudo misturado. — Onde estamos? — pergunto, ainda tentando focar na sala, no teto arqueado, na janela por onde uma luz alaranjada entra. É fim de tarde. Ou amanhecer, não sei. — Elyandor — responde uma voz suave atrás de mim. Luiza. — Estamos no Reino Elyandor, Emma. Aqui você estará segura, ao menos por enquanto. Sinto meu corpo pesar. Meus tios se inclinam, verificam os ferimentos. Um deles oferece água. Outro cobre meu cobertor com uma manta extra. O cheiro doce de chá sobe, misturado a perfumes florais que não reconheço bem. Tudo parece diferente: o mundo real parece distante, como se uma névoa o cobrisse. — Você lutou — diz Aiden, finalmente. — E não deixou que eles fizessem mal a ninguém. Mas teve que gastar muita energia… É por isso que desmaiou. Era demais. Encosto a cabeça no travesseiro macio. Tento juntar forças. — Me perdoem — digo, surpresa. — Eu tentei... não queria que ninguém se machucasse por minha causa. Minha mãe segura minha mão. — Não há o que perdoar, nós que pedimos perdão por toda mentira. Nós te amamos. E ver tudo aquilo... bem, foi terrível. Mas você nos protegeu também. Minha amiga Luiza limpa uma lágrima que escorre no rosto, embora saiba que ela mesma está assustada. — Emma, eu... — ela começa. — Eu devia ter contado. Devia ter sido honesta. Minha garganta fecha. Eu aperto os dentes. — Você não precisava me proteger de nada. Você já faz parte disso. Mas sim, machuca que você tenha guardado segredo. Luiza inclina a cabeça, envergonhada. — Eu pensei que assim estaria te protegendo, que se eu contasse, te colocaria em perigo. — Talvez — admito, com voz áspera. — Mas não importa mais o quanto dói. Agora que estou aqui, agora que sei... Quero entender tudo. Quero ver vocês. Quero entender por que mentiram, por que me deixaram achar que eu era só quem eu via. Aiden assente. — Vamos explicar tudo. Já temos tempo agora. O Reino Elyandor vai nos proteger, aqui sua magia pode descansar, se refinar. E eles vão te ensinar. Seus pais biológicos estarão aqui por você. Seu guardiões e protetores também. E eu — eu vou estar ao seu lado. Fecho os olhos por um instante. Puxo o ar, sinto cada músculo doer. Sinto também algo pulsando dentro do meu peito: poder, medo, amor, culpa. Tudo misturado. Mas, pela primeira vez em muito tempo, sinto… esperança.






