O dia chegou rápido demais. O sol se pôs devagar, tingindo o céu de dourado, como se estivesse me dando uma última chance de desistir. Eu estava sentada na beirada da cama, segurando um vestido branco entre os dedos. O mesmo que tinha separado há dias, num impulso qualquer de tentativa de agradar. Coloquei-o. Me olhei no espelho.

Era eu. Mas uma versão pálida, apagada. Não era assim que eu queria me sentir. Não era assim que eu queria que ela me visse.

Tirei o vestido com um movimento brusco. Entrei no banho. Deixei a água cair sobre mim como se pudesse lavar os pensamentos, o cansaço, as dúvidas. Me depilei, lavei o cabelo com cuidado, me demorei em cada detalhe como quem prepara não o corpo, mas a coragem.

Saí e fiz uma maquiagem impecável. Camadas de segurança fingida.

No guarda-roupa, procurei algo que dissesse mais sobre quem eu estava tentando ser. Escolhi um vestido vermelho, justo, com uma fenda lateral que me fazia lembrar do olhar de Eve