Mundo de ficçãoIniciar sessãoO ar lá fora estava denso, pesado, como se a madrugada respirasse junto comigo.
A chuva tinha voltado fina, cortando o vento, e cada gota parecia grudar na pele feito arrependimento. Entrei no carro sem olhar pra trás. As mãos tremiam quando girei a chave na ignição. Por um segundo, quase desliguei tudo e voltei. Mas a lembrança do olhar dele — frio, impassível, envergonhado de mim — queimou mais forte que qualquer dúvida. Engatei a marcha e saí. O portão da garagem se abriu devagar, o barulho metálico ecoando no peito. No espelho retrovisor, vi o reflexo das luzes do prédio diminuindo. E, bem na calçada, o vulto dele. Dante. Imóvel, com o terno amassado, a camisa aberta no pescoço e aquele olhar que parecia me seguir mesmo quando eu não olhava. Pisei fundo no acelerador.






