Eu quase não dormi naquela noite.
Mesmo quando o corpo cedia ao cansaço, a mente insistia em voltar àquela última frase.
À forma como ele a disse.
À certeza fria por trás das palavras.
“Eu sou capaz de tudo.”
O amanhecer entrou pela janela sem pedir permissão. A luz pálida iluminava o quarto que, até então, sempre fora apenas um lugar de passagem para mim. Naquela manhã, parecia diferente. Mais estreito. Mais definitivo.
Me levantei devagar, como se qualquer movimento brusco pudesse fazer tudo desmoronar.
No corredor, a casa ainda dormia. O silêncio era espesso, quase respeitoso. Caminhei até o quarto de Benjamin com passos cautelosos, parando diante da porta entreaberta.
Ele dormia de lado, abraçado a um travesseiro grande demais para seu corpo pequeno. O rosto estava tranquilo, alheio às decisões tomadas por adultos enquanto ele descansava.
Ali, diante dele, tudo parecia mais simples — e ao mesmo tempo mais cruel.
Entrei no quarto e fechei a porta com cuidado. Sentei-me na beirada d