Valerie
A noite caiu como um véu pesado sobre a casa, abafando os sons do mundo e intensificando o silêncio dos corredores. O relógio antigo marcava vinte e três horas quando Francesco entrou no quarto. Seus passos eram sempre calculados, sua expressão serena demais para alguém com tantas sombras por trás dos olhos. Valerie já conhecia cada movimento do marido — cada silêncio que dizia mais do que palavras.
Ele deixou a jarra de água sobre a mesinha de cabeceira, como fazia todas as noites, com aquele mesmo cuidado excessivo que um estranho chamaria de carinho. Mas ela sabia. Sentia no fundo da alma que aquele gesto não era amor. Era controle. Era culpa. Ou talvez, só covardia.
— Está com sono, amore mio? — ele perguntou, com um sorriso gentil, falso como um espelho trincado.
Valerie assentiu, forçando um sorriso fraco. O corpo doía, como sempre. Os músculos, moles e pesados. O estômago, enjoado. Mas naquela noite, ela não tomaria a água. Não mais.
— Um pouco, sim... obrigada pela águ