Valerie
O silêncio daquela casa era diferente de qualquer outro. Não era o silêncio da paz, mas o da tensão contida. Um silêncio que gritava, mesmo sem emitir som. Valerie estava acostumada a ele. Tão acostumada que, por anos, acreditou que era o som da vida comum.
Mas nos últimos dias, depois da fuga de Giulia, aquele silêncio passou a ser insuportável.
Estava sentada na poltrona perto da janela, observando o céu de um cinza opaco, como se o próprio tempo conspirasse com a angústia que a dominava. Na mesa ao lado, o copo de água deixado pelo marido aguardava, como todas as noites.
Ela o ignorou. Levantou-se, pegou o copo e caminhou até a planta no canto da sala.
Derramou o conteúdo lentamente.
As folhas, outrora vibrantes, estavam murchas. Algumas tinham manchas marrons nas bordas. A terra parecia seca, mas era a planta que estava sendo consumida por dentro.
— Ele está me matando… — sussurrou para si mesma, sentindo os olhos encherem de lágrimas.
As peças estavam se encaixando. A