Capítulo II

Acordei com a sensação de que minha vida finalmente estava desempacando. Estava no meu novo quarto, em uma casa enorme e chique. Tudo bem que não era minha, mas não nego: o lugar era fresco, confortável, quase luxuoso.

Depois de um banho quente e de escovar os dentes, me arrumei um pouco mais. Coloquei uma roupa apresentável, fiz um penteado simples, passei um pouco de blush e um hidratante labial com cor. Nunca se sabe quando posso cruzar por aí com um certo jovem alto, bonito e atrevido. Passei a noite toda pensando naquilo que ele disse: “Quero ver você aqui mais vezes.”

Ele estava tentando me seduzir ou algo assim? Quem aquele atrevido e mal-educado pensa que é? E aquele sorrisinho de canto... O que ele tem de bonito, tem de convencido.

Fui até o quarto do Nico. Acordei mais cedo para ajudá-lo a se arrumar para a escola.

— Ei! Acorda, mocinho. Tá na hora de se arrumar pra escola — falei, tocando seu ombro pequeno.

— Por quê? Sai pra lá, moça... Eu já sou bem inteligente — murmurou, sem nem abrir os olhos, se enfiando ainda mais no edredom.

— Até as pessoas mais sábias têm muito o que aprender. Para de gracinha e levanta. Como vai virar um executivo de sucesso desse jeito? — brinquei, o ajudando a sentar devagar.

— Não quero ser executivo, deve ser muito chato. Vou ser alguma coisa legal... tipo jogador de basquete ou nadador — disse, ainda com os olhos entreabertos, bocejando.

— É isso aí, carinha! Você tem porte de atleta. Daqui, já vejo uns músculos aí — ouvi uma voz masculina, grave e provocante, atrás de mim.

Virei devagar, já sabendo quem era. Ravi.

Ele estava recostado no batente da porta, braços cruzados e aquele maldito sorriso de canto no rosto. O típico cara que sabe que é bonito — e pior: que adora provar isso.

— Ravi! — gritou Nico, animado, pulando da cama com a velocidade de um foguete.

— E aí, campeão! Não tá dando trabalho, né? Obedece a moça, vai tomar banho e se apronta logo. Nada de chegar atrasado, nadador — disse ele, fazendo cafuné no irmão.

— Tá bom! — respondeu Nico antes de correr para o banheiro.

Quando voltei os olhos, Ravi já estava vindo na minha direção, devagar, com aquele ar de quem se diverte só de me provocar. E claro, ainda com aquele sorriso torto que parecia ter vida própria.

— Sabia que ia te ver de novo — disse, parando perto demais. — Você faz o tipo dele.

Franzi a testa.

— "Dele"? Quem?

— Lorenzo. Vai se fazer de tonta agora? — disse, com um suspiro entediado, como se estivesse comentando o clima.

— Como é que é?! — empurrei-o instintivamente. — Tá louco? Me chamando de tonta assim, do nada? Você é maluco ou o quê? Você é um mal-educado, sabia?

Meu corpo gelou por dentro. Eu tinha acabado de conseguir esse emprego, e agora estava discutindo com o filho do meu chefe? Será que enlouqueci dentro dessa casa?

Ele riu baixo, como se minha reação fosse divertida.

— Só sou direto. Você devia ser mais sagaz... Essa sua cara não combina com tanta inocência. E aí? Não gosta do meu jeito?

— Odeio — fui direta.

— Por enquanto — continuou, ainda provocando.

— E o que te faz achar que vou começar a gostar? No máximo, vou suportar por falta de opção — falei, já perdendo a paciência.

— Você se irrita fácil — ele disse, sorrindo. — Se eu fosse você, começava a me tratar com mais carinho. Só vim ver o Nico e descobrir se você realmente serve pra cuidar dele. Você ainda tá em fase de teste, lembra? Então... cuidado com as palavras.

Meu sangue gelou. Aquele idiota estava me lembrando de que ele podia me derrubar ali mesmo, só com uma palavra. Resolvi baixar a guarda, respirei fundo e tentei me conter.

— Desculpa, senhor. Não foi minha intenção. Estou me esforçando pra cuidar do Nico com toda dedicação. Ele é um menino incrível, e eu não faria nada que pudesse prejudicá-lo. Nem a ele, nem a ninguém aqui.

Ele me olhou em silêncio por alguns segundos, e seu sorriso mudou. Ficou menos debochado, mais... irônico.

— Que discurso lindo. Você ensaiou na frente do espelho? Foi isso que disse pro Lorenzo também? Me poupe. Deve estar aqui só pelo dinheiro... Ou é só mais uma histérica que sonha em casar comigo ou com o Jonas e faz de tudo pra se aproximar. Só não quero que envolva o Nico nisso — Ele disse, impaciente, com o humor se fechando.

— Isso é sério — falei, firme. — Sim, estou aqui por dinheiro. Mas quem não estaria? Todo mundo trabalha porque precisa. Eu não conheço você, nem esse Jonas que mencionou, e não estou interessada em agradar o seu pai. Eu tô aqui por mim e pelo Nico. Só isso.

Ravi me encarou. O sorriso dele não reapareceu, mas o brilho nos olhos mudou — como se algo o tivesse desarmado por dentro.

Ele virou as costas, sem dizer nada, e saiu. E eu... respirei. Senti um alívio quando ele saiu, mas o medo de ter discutido com quem não devia continuava pesando em mim. Mas a dúvida me bateu:
Ele chama o próprio pai de Lorenzo?

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