Maya Mendez
Sabe aquela sensação de ser diferente de todo mundo? Quando parece que nada do que você faz dá certo, e o mundo simplesmente não conspira a seu favor? Que você é uma pessoa de pouca sorte? Se você se sente assim, saiba que não está sozinha — você se sente exatamente como eu.
No meu momento atual, tudo tem conspirado para que eu me sinta sem saída. Mas há algo que minha mãe sempre dizia: “Enquanto há vida, há esperança.” Sei que é um clichê motivacional, mas é o que me mantém firme na maior parte do tempo.
Ainda não consegui arrumar emprego. A conta do hospital onde minha mãe está em coma tem sido alta, e minhas economias logo não serão suficientes para cobrir os gastos. Esse é o caos vivo que me atormenta a cada segundo em pensamento.
Levantei da cadeira ao lado do leito onde minha mãe estava. Ela repousava com o rosto sereno, adormecida sem previsão de acordar. Eu já estava ali há um bom tempo. Resolvi ir para casa tomar um banho e tentar comer, nem que fosse um pouco.
Ao descer do ônibus, caminhei em direção à minha casa. A chuva fina tocava meu rosto, e a brisa soprava leve, mas dentro de mim, o peso no peito e a inquietação na mente não davam trégua.
Quando cheguei, fiz o que sempre fazia: tomei banho, comi um pouco e fui olhar sites de emprego, buscando alguma oportunidade. Rolei a tela do celular e encontrei uma vaga que me chamou a atenção. Era para trabalhar como babá de uma criança de 7 anos. Pagava bem e ficava em um dos bairros mais nobres da cidade. Sem muita confiança, enviei minha carta de apresentação para o e-mail indicado. Aquela parecia ser a chance perfeita: eu poderia me sustentar e arcar com os custos da internação da minha mãe. Olhei outras vagas, mas nenhuma era tão boa quanto aquela; naquela situação, aceitaria qualquer coisa.
No dia seguinte, acordei e fui tomar café, mas não consegui comer nada. A preocupação me consumia, e eu não conseguia mais fingir que estava tudo bem. Chequei meus e-mails e não havia nenhuma resposta. Chorei… esperançosa, mas sem suportar o presente e com medo do futuro. No meu coração, não havia mais espaço para a dor crescente. Não era só a falta de recursos — sentia falta dela. Tinha medo de não vê-la mais, de que não tivesse uma segunda chance. Perder a pessoa que mais amo no mundo? Eu não estava pronta. Quase todas as noites, sonhava com os olhos dela se abrindo.
Ouvi barulho de chuva, abri a janela e fiquei ali, admirando as gotas jorrando nervosas pela rua. Nesse momento percebi uma coisa… somos como a chuva, pois ela cai, às vezes com força, outras em silêncio. Toca o chão, escorre por caminhos que não escolheu. Molha o que encontra — às vezes traz vida, às vezes causa estrago. Mas nunca permanece no mesmo estado. No fim, ela evapora, sobe às nuvens e volta para o mesmo lugar de onde veio. Após a queda, eu espero que a minha mãe finalmente possa voltar para casa.
Meu celular vibrou nas mãos; vi que era um e-mail e fui correndo ler. Consegui uma entrevista para a vaga de babá que eu mais queria. Fiquei tão aliviada que quase caí no chão. Finalmente, pude respirar um pouco.
No dia seguinte, fui ao endereço para a entrevista. Em frente à casa, pude ver que ela era imensa e linda. Havia um jardim enorme, e o jardineiro cuidava das flores. Respirei fundo e segui até o portão. Toquei a campainha, e não demorou para que um homem alto, de cabelos lisos e castanhos escuros — da mesma cor dos olhos — aparecesse. Devo admitir que era bonito, mas esse não é o foco. Ele estava em frente ao portão, que ainda nos separava, com um cigarro na boca. Sua expressão era de tédio.
— Oi, tudo bem? Vim para a entrevista de babá — disse. Assim que fechei a boca, vi um sorriso de canto se formar em seus lábios. Ele me olhou de cima a baixo e abriu o portão. Entrei, e ele fechou-o atrás de mim.
— Espero que consiga trabalhar aqui. Venha comigo — disse, caminhando com as mãos nos bolsos da calça. Apenas o segui, concordando com o que ele disse.
Enquanto avançávamos pelos cômodos, eu ficava cada vez mais impressionada com a beleza do lugar. A casa era uma mistura de luxo e modernidade, com móveis elegantes que brilhavam sob a luz suave dos lustres. Eu não conseguiria ter um lar assim nem que trabalhasse a vida toda.
— É aqui — disse ele, parando diante de uma porta grande de madeira marrom.
“Que mal-educado,” pensei, aborrecida.
— Obrigada — falei.
Ele bateu duas vezes na porta e abriu uma fresta.
— A moça chegou — falou para alguém dentro. Virando-se para mim, disse:
— Entra aí e vê se manda bem. Quero ver você aqui mais vezes — sorriu de lado e saiu, se sentindo um galã de novela.
Entrei.
Era um escritório. À minha frente, um homem mais velho, de boa aparência, sentado à mesa diante do computador, olhou para mim sério e ordenou que eu me sentasse. Assim fiz.
— Como se chama? Quantos anos tem? — perguntou.
— Maya Menez, senhor. Tenho 23 anos — respondi.
— Sou Lorenzo Gallardo, pai do Nicolás, o garoto que você vai cuidar. Por que uma mulher tão jovem quer esse emprego? Gosta de crianças? — indagou.
— Gosto sim. Cuidava dos meus sobrinhos quando minha irmã morava comigo e precisava trabalhar. Foi uma época feliz que guardo com carinho. Tenho certeza de que vou cuidar do Nicolás com todo o cuidado que tive com eles e não vou decepcioná-lo — tentei persuadir.
— Interessante. Já vejo que é uma mulher doce e paciente. Vou fazer um teste: você fica como babá do Nicolás por uma semana, e eu acompanho seu desempenho. Se ele gostar, será contratada oficialmente. Se não, receberá pelo tempo trabalhado e será dispensada. Tudo bem? — perguntou.
— Concordo, darei o meu melhor — sorri.
— Outra coisa: viu na descrição da vaga que precisa se alojar aqui durante a semana, certo? Sou muito ocupado, o Nicolás perdeu a mãe, meu filho mais velho trabalha comigo e também é muito ocupado e o... — pensou por segundos — outro filho se dá bem com o Nicolás, mas não cuida nem de si mesmo. Preciso que você o ajude ao máximo nessa fase. Nos finais de semana, estará livre — concluiu.
— Vi sim, não vejo problema e fico feliz em ajudar — pensei. Afinal, não era como se alguém estivesse me esperando em casa...
— Venha, vou te apresentar ao meu filho caçula e mostrar seu quarto — disse, levantando-se.
Segui Lorenzo enquanto ele me mostrava a casa, apresentava os empregados e, finalmente, o quarto onde dormiria. Era um cômodo médio, com cama de solteiro bem arrumada, estante e um pequeno banheiro anexo. Muito mais sofisticado do que o meu. Por fim, ele me levou ao quarto do Nicolás, abriu a porta, e lá estava ele, concentrado pintando em um livro de colorir.
— Olha só, parece até um milagre você estar longe do celular — brincou o pai.
— Oi, papai! — Nicolás levantou da cama e correu de braços abertos para abraçá-lo, como se fosse o último abraço que pudesse dar. O pai se afastou delicadamente.
— Tá vendo essa aqui? Ela será sua nova babá, vai cuidar de você quando eu não estiver — virou o rosto do garoto na minha direção. Nicolás tinha um rosto gracioso, parecia um anjinho, da cabeça aos pés. O cabelo era liso e castanho, os olhos grandes, amendoados, e o rostinho redondo.
— Oi, Nicolás, tudo bem? Você é muito fofo, sabia? Vai me deixar cuidar de você? — sorri.
— Só vou deixar porque você é muito bonita, viu, moça — disse ele, escondendo o rosto no ombro do pai, que estava agachado para ficar na altura do garoto.
— Que rapaz atrevido, hein? Você aprendeu isso com o Ravi? É a cara dele ensinar essas coisas — riu o pai.
— Ainda tenho que crescer muito para ser como ele — falou Nicolás sorrindo.
— Bom, já vou indo, filho. Papai precisa voltar ao trabalho — disse Lorenzo, levantando-se. Vi o semblante do garoto mudar, e o sorriso desaparecer. Achei que ele iria insistir para o pai ficar, mas ele só fez um olhar triste.
— Espero que se adapte bem aqui. Qualquer coisa, fale com a Tereza. Estou de saída — disse o pai e foi embora.
— Meu nome é Nicolás, mas o Ravi me chama de Nico. Você pode me chamar assim também — ouvi a voz infantil do garoto.
— É um apelido fofo. Eu me chamo Maya. Quem é esse Ravi? — perguntei.
— É meu irmão, ele é o cara mais legal do mundo — falou animado, sorrindo. Espero que seja verdade. Mesmo que não, não me importa. O que importa é que, naquela tarde, consegui o emprego que precisava e que, no fim, mudaria toda a minha vida.