(Narrado por Dante Ferraz)
Já faz alguns dias que não consigo dormir uma noite inteira.
Não é a dor física que me atormenta.
É tudo o que veio depois.
A mente. O coração.
A imensa solidão.
Acordo antes do sol raiar.
Sento-me na beira da cama.
Permaneço ali, com o olhar perdido nas frias paredes do esconderijo que Lorena preparou para mim em São Paulo.
Respiro aquele ar denso, como se estivesse inalando pólvora antes de puxar o gatilho.
Meu corpo se recuperou, mas o restante de mim… não voltou junto.
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Recentemente, ela me mostrou o que restou da minha vida.
A certidão de óbito forjada.
A assinatura falsificada.
As manchetes nas revistas de negócios.
O rosto de Caio Valença o meu melhor amigo sorrindo em uma coletiva de imprensa.
Discutindo sobre “superação” e “novos começos”.
E atrás dele, o logotipo da minha antiga empresa Ferraz Engenharia, agora renomeada de maneira grotesca: Valença Group.
Como se eu nunca tivesse existido.
Como se tudo o que construí fosse