Hanna
Talvez se cometesse algum erro grave… mas pensando bem, apenas por desobedecê-lo, já era considerado grave, no entanto, ele mandou me arrastar até aqui de novo.
Talvez se eu recorre-se à rainha, não, ela poderia ficar com rancor por eu não querer servir seu filho e isso prejudicaria a minha mãe.
— Ah… — Suspirei mais alto.
Era frustrante não ter o poder de escolha. Não sei porque ele fazia questão de manter uma serva indisciplinada ao seu lado.
Ele não tinha nada melhor para fazer? Tipo seus afazeres como príncipe? Por que perder seu tempo domando um cavalo selvagem como ele mesmo diz?
Droga, eu não sou um animal selvagem, apenas não quero estar aqui.
Depois de reclamar novamente pela quantidade de escadas, cheguei ao quarto. As cortinas estavam abertas e entrava uma brisa mais fria.
Mas era a única coisa agradável. A cama estava uma bagunça e algumas almofadas estavam espalhadas, os lençois jogados e algumas taças de vinho com vestígios de bebida.
Abaixei-me e com as pontas dos dedos, levantei um pedaço de tecido de seda, devia ser de alguma daquelas mulheres.
Não vou me acostumar com isso.
Um tempo depois, a porta foi aberta e o príncipe entrou acompanhado por uma serva, eu a reconheci apenas pelo jeito submisso.
A serva de cabelos ruivos vestia um vestido branco até quase os pés, nas mãos, algumas roupas e um par de botas.
— Esta serva vai lhe ajudar com o banho.
— O que?
Os vincos que se formaram entre suas sobrancelhas foi um alerta e engoli meu próximo desaforo antes de abaixar a cabeça
— Mais uma vez vou relevar sua insolência, serva. Eu iria puni-la hoje, mas minha mãe, sua rainha, pediu que eu considerasse por ser filha de sua serva a qual tem grande apreço. Eu espero que de agora em diante, se ponha em seu lugar e cumpra sua função como deve ser.
Resmunguei baixinho ainda de cabeça baixa. Ele sabia qual era o meu ponto fraco.
— Se desobedecer novamente, eu a jogarei nas masmorras apenas para que sua mãe não tenha a única filha morta. — Estremeci com sua ameaça. — Por isso, pense bem.
— Sim, vossa alteza.
— Repita em voz alta para não esquecer com quem está falando.
— Sim, vossa alteza — Falei mais alto.
A raiva me consumia. Eu sei que ele seria capaz de cumprir a ameaça, mas não conseguia simplesmente aceitar.
— Ótimo. Esteja no meu gabinete assim que terminar. Eu não gosto de esperar. — O príncipe virou as costas e saiu do quarto.
Rangi os dentes. Nunca criei ódio por alguém como agora. Maldito príncipe arrogante.
— Vamos terminar logo com isso, por favor — disse a garota que agora mostrava seu rosto. — Vossa alteza não é conhecido por ser paciente e já vi várias vezes o que acontece quando ele a perde. Não sei como você está aqui depois de tudo o que fez.
— Eu não fiz nada! Estou aqui contra a minha vontade — retruquei.
— Sua vontade não tem relevância agora. — Veio até mim e começou a puxar minhas vestes.
— O que está fazendo?
— Cumprindo uma ordem.
— Eu posso fazer isso sozinha, obrigada. — Tentei não ser rude, ela não tinha culpa.
— Eu sei, mas o príncipe me ordenou que a auxiliasse e eu irei cumprir, você querendo ou não.
Olhei-a com atenção. Seus olhos claros eram determinados, logo se via que estava acostumada com esse trabalho.
— Ok, mas eu irei me lavar sozinha. — Olhei para a porta do quarto de banho aberta. — Por que eu tenho que fazer isso aqui? Não tem um quarto de banho para os servos?
— Sim, nós temos, mas o príncipe ordenou que fosse aqui.
— Esse príncipe é muito estranho.
— É a primeira vez que o vejo tomar essa atitude, mas também é a primeira vez que vejo ele ignorar a desobediência de um servo. Normalmente, ele mataria ou jogaria nas masmorras.
Agora que estava me acalmando, senti um calafrio.
— Não importa. Se ele quer que eu faça isso aqui, que assim seja.
Olhei para a porta principal antes de começar a tirar as roupas, a serva me ajudou e fiquei envergonhada por ficar nua. Não tinha nada demais, éramos duas mulheres, o problema era outro.
— Qual é o seu nome? — perguntei quando entramos no quarto de banho, ela despejou a água quente na banheira e conferiu a temperatura.
— Yuna.
— Yuna. É um bonito nome. Faz tempo que serve aqui? — Entrei na água morna e quase gemi. Como era bom.
— Meus pais já eram servos quando nasci, então não foi difícil decidir.
— Entendo.
— Não é ruim, aqui nós temos mais privilégios que qualquer outro humano. Eles nos tratam bem.
— Não tenho certeza disso — resmunguei quando ela molhou meus cabelos.
— Quando você conhecer a rotina e os demais servos, verá que não é tão ruim.
Olhei-a, incrédula. Será que na verdade, ela é filha da minha mãe e não eu?