Hanna
— Sim, essa é minha filha, vossa majestade.
— Majestade. — Curvei-me novamente ao cumprimentá-la respeitosamente.
Estava nervosa, ela me olhava com rigor, certamente por eu estar com vestes inadequadas, ou por eu ser uma estranha que iria servir seu filho mais novo.
— Certo. Deixarei isso em suas mãos. Há tantas coisas para providenciar e justamente hoje aquele criado se machucou.
— Cuidarei disso, vossa majestade. Não se preocupe.
A rainha suspirou ainda olhando para mim e saiu. Só quando sumiu por uma porta é que pude respirar direito.
— Acho que ela não gostou de mim — comentei baixinho.
— Bobagem. Quem não gostaria de você? É uma moça bonita e carismática.
Alisou meu rosto. Bem, não me achava das mais bonitas, mas também não desgostava da minha aparência. Eu também não era tão moça assim, com vinte e cinco anos nas costas, eu já devia ter me casado.
— A rainha está apreensiva, apenas isso. Eles estão atrasados em alguns dias, ela está temerosa que alguém tenha se machucado.
— Mas os vampiros se curam rápido.
— Sim, mas ela é mãe e está preocupada. Agora vamos nos apressar.
Acompanhei-a até a cozinha, eu quase nunca vinha no castelo, mas quando acontecia, não passava dali. A comida preparada para os servos humanos era deliciosa. Minha mãe sempre levava algo para mim e meu pai.
A ajudei a pegar os grossos lençois e alguns ítens de limpeza, depois seguimos para os aposentos do príncipe. Eram tantos degraus que me perguntei se tinha a necessidade de um castelo ser tão alto.
Quando enfim chegamos ao quarto, já estava quase me deitando. Eu não era preguiçosa, mas com o sono que estava, seria capaz de dormir ali no chão.
— Abra as cortinas, filha — pediu e prontamente obedeci.
Minha mãe se encarregou de acender mais velas nos castiçais enquanto me ocupei em observar o quarto, realmente digno de um príncipe. Grande e decorado com ouro e prata.
Havia quadros com pinturas estranhas, porém, bonitas. No centro de uma das paredes, uma grande cama e em volta, cortinas vermelhas com detalhes negros e dourados, todas bem amarradas em cordas de fios dourados.
Suspirei. Eu não pertencia a esse lugar.
Olhei para fora, era uma visão privilegiada do reino, mesmo à noite.
— Troque os lençois e tire o pó dos móveis, por favor. Deixe tudo limpo. — Virei para a minha mãe que acendia a última vela no castiçal de cima de um móvel de madeira.
— A senhora não vai ficar?
— Não posso. Tenho que ficar ao lado da rainha. Eu sirvo apenas a ela.
— Eu não entendo, com tantos servos dentro desse castelo, por que tem que ser eu a fazer isso? Isso qualquer um pode fazer. — reclamei mais uma vez.
— Ouça, querida, eu a chamei porque é meu sangue e eu confio, sei que é esforçada e fará o seu melhor. O príncipe tem um temperamento difícil, mas não maltrata seus servos. Eu confio que ele não te fará mal.
— Quem sabe…
— Eu sei. — disse confiante. — Assegure-se de atender seus pedidos. Quando ele chegar, prepare um banho morno.
— Ok.
— Não esqueça de se curvar e não fique o encarando. Ele detesta isso. Mantenha sua cabeça baixa.
— Entendi. — Cruzei os braços ainda emburrada.
— Não se preocupe, irá se sair bem. Me chame se precisar. — Ela jogou-me um beijo e saiu do quarto.
Quando a porta fechou, deixei meus braços caírem e baixei meus ombros. Eu devia estar na minha cama debaixo de um cobertor quente, roncando e sonhando.
Essa minha vinda era tão desnecessária, qualquer um sabe tirar o pó e trocar os lençois. Não entendo qual foi a lógica que usou para tomar essa decisão.
A tarefa não é difícil. Se eu for comparar com o trabalho no campo, isso é moleza, mas servir a um vampiro da realeza não me agrada. Eu ainda tenho minhas dúvidas se ele não vai morder meu pescoço contra a minha vontade.
Bem, não adianta ficar lamentando. Tenho que fazer o meu melhor, pois minha mãe conta com isso, qualquer erro meu, ela será responsabilizada.
…
A madrugada parecia não passar, todo o serviço estava feito e eu já tinha fechado os olhos e bocejado incontáveis vezes. Puxando o ar longamente, levantei mais uma vez da cadeira, o espelho era logo ao lado e analisei meu reflexo.
Meus olhos azuis estavam cansados, minha trança lateral desgrenhada, minha pele murcha. Suspirei.
Era um exagero, é claro, minha pele parecia muito saudável apesar de mais bronzeada devido ao sol, mas meus lábios estavam rachados como sempre.
Certo, eu não sou como as outras mulheres, nem gosto de vestidos, tanto que estou usando uma calça gasta até o meio das canelas e uma grande camisa de algodão grosso que estava usando para dormir.
Minha mãe desistiu de me presentear com vestidos, não usava, pois considerava meu estilo mais prático. Dava para trabalhar, montar em cavalos e subir em alguma árvore para colher frutas. Quem liga para vestidos bonitos? Nós só precisamos de roupas confortáveis.
Esfreguei meus olhos cansados. Quando eles iam chegar?
— Hanna. — Dei um pulo ao ouvir minha mãe. — Eles estão chegando, vamos, precisamos recebê-los.
— Pra quê? Não basta esperar no quarto?
— É nossa obrigação. Anda logo e faça uma expressão amigável.
Suspirei novamente e a acompanhei. Isso vai ser difícil.