Ninguém sabe exatamente quando começou.
Alguns dizem que foi no cair da noite. Outros, que foi antes mesmo do nascer do sol. Mas, quando perceberam, já era tarde.
Na vila de Halmir, uma mulher foi a primeira a gritar.
— O céu... — apontou, tremendo, os olhos arregalados, — ...o céu está... rachando!
E estava.
Uma linha negra cortava o firmamento como se o mundo inteiro tivesse trincado por dentro. Ela vibrava, pulsava, como uma ferida aberta no próprio tecido da realidade.
Os mais velhos foram os primeiros a entender — ou a sentir, talvez.
— Isso não... isso não é um presságio. — sussurrou o velho Harven, apertando a mão trêmula no peito. — Isso... é uma sentença.
E então vieram os sons.
No começo, parecia apenas vento.
Depois... vozes. Não, não vozes — suspiros. Respirações. Sussurros sem boca. Palavras sem som.
Em Laret, um povoado de pescadores, o rio secou.
Da noite pro dia.
Peixes mortos cobriram o leito, mas não foi o cheiro que assustou. Foi o que apareceu nas pedras expostas