“Às vezes os mocinhos entram pela porta errada.” — Anotação de Joana.
O interfone parou de tocar. O silêncio que ficou tinha um peso — daqueles que parecem empurrar o ar pra fora da sala.
Ninguém se levantou. Ninguém respirou diferente. Mas algo mudou.
Rafael olhava da janela para a porta, de forma periférica, como quem calcula a trajetória de uma bala sem mexer a cabeça. Foi tempo suficiente pra eu perceber que ele estava mapeando saídas que eu não via.
Quando voltou a me olhar, tinha algo diferente nos olhos. Uma decisão. Ou talvez resignação.
— Certo — ele disse. — Acho que chegou a hora.
Ele puxou a carteira do bolso. Abriu. Passou pelos cartões comuns — CPF, banco, identidade — até os dedos pararem num compartimento interno, um bolso dentro do bolso e tirou um documento plastificado, menor que uma carteira de identidade comum, e colocou delicadamente sobre a mesa, ao lado das fotos, como quem deposita um bisturi com cuidado.
— Meu crachá de “consultor em segurança” — ele disse,