“Há lares onde o silêncio pesa mais que os gritos. Onde o afeto é coreografado, e o amor, uma performance meticulosa. Aprendi que o pior cativeiro não tem grades — ele se chama convivência forçada.” ― Diário de D.
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A mansão Bellucci continuava imponente. Jardins geométricos, colunas brancas, portões eletrônicos, seguranças discretos. Estofados de linho impecáveis, mármore italiano que refletia a luz como um espelho, quadros assinados. Tudo estava em seu devido lugar — exceto, é claro, qualquer coisa que lembrasse calor ou alegria.
O tempo parecia não passar — apenas assombrar.
Desde o nascimento de Theo, Victoria e Enzo habitavam aquele espaço grandioso, mas o afeto parecia sempre escapar pelas frestas invisíveis. A casa tinha espaço de sobra. Mas faltava espaço para afeto.
Naquela noite, tão previsivelmente quanto o nascer do sol, o jantar foi servido com a precisão de um relógio suíço.
Enzo tinha acabado de chegar, seus passos pesados ecoando pelo piso de mármore. Ele estava exau