“Mas há um instante — e só um — em que se pode dar o passo decisivo. É quando o medo se torna coragem.” — Clarice Lispector
O silêncio que se seguiu às reflexões de ambos foi carregado de tensões não verbalizadas. Dayse sentia o peso das memórias pressionando contra seu peito, enquanto Enzo lutava contra a familiaridade perturbadora que ela despertava nele. A luz do amanhecer filtrava pelas cortinas, pintando o quarto com tons dourados que contrastavam com a escuridão dos segredos guardados.
Era inevitável que as perguntas viessem.
Dayse sabia disso.
Assim como sabia que cada resposta seria um passo em direção a um precipício do qual talvez não conseguisse voltar.
Mas havia algo na forma como Enzo a olhava — uma mistura de fascínio e desespero — que a fazia querer prolongar aquele momento suspenso entre o passado e o presente.
Ela precisava saber. Precisava entender o que restava dela na memória dele, mesmo que isso significasse abrir feridas que jamais haviam cicatrizado completament