A Pele Que o CEO Não Esqueceu
A Pele Que o CEO Não Esqueceu
Por: Hera Valente
Capítulo 1 ― A Assinatura

“Assine.”

O advogado empurrou o contrato como quem passa uma fatura.

Se assinasse aquele papel, não haveria volta.

Suas mãos estavam trêmulas, cada movimento parecia carregado de significado e desespero...

Pela primeira vez, seus dedos tocaram a caneta. Sentiu o peso inesperado do objeto, como se carregasse mais do que tinta e metal — como se fosse um julgamento, uma sentença, um ponto de não retorno. 

Depois, sem pressa, sem hesitação, colocou-a de volta sobre a mesa. 

O papel poderia esperar. 

Dayse ergueu os olhos e encarou o homem.

— Está faltando uma cláusula — disse, com voz firme.

— Quero que conste que nenhuma decisão médica será tomada sem meu consentimento.

O silêncio foi gélido. O advogado hesitou.

— Isso não é usual…

— Mas vai ter que ser. Ou terão que achar outro útero.

O advogado deu um suspiro e saiu por um momento para incluir a cláusula que ela pediu.

Ao seu lado, os pais adotivos, Edmund e Vivian Antonelli, mantinham-se imóveis, observando tudo com a indiferença calculada de quem assiste a mais uma transação empresarial. 

A mãe evitava seu olhar — preferiu refugiar-se na tela do celular, como se houvesse algo ali infinitamente mais relevante do que a filha que um dia escolheu acolher.

Edmund, por sua vez, lançava olhares impacientes ao relógio, como quem conta os segundos para que aquilo termine logo. 

Dayse sabia que, para eles, esse contrato significava livrar-se de um fardo.

Para ela, era a condenação a uma vida incerta ao lado de um homem que sequer conhecia.

Edmund a olhou com fúria contida.

— Que palhaçada é essa?

Dayse não recuou.

— Pare com isso Dayse, estamos com pressa — disse Edmund, com a voz ríspida e impaciente. — Assine logo e poupe-nos de mais drama.

O "drama" era a vida dela sendo vendida. Dayse olhou para o contrato com os olhos marejados. Palavras curtas. Frases diretas. Sem sentimentalismo.

“A noiva compromete-se a residir na propriedade da família Bellucci, pelo período de um ano, tempo necessário para a concepção e a gestação de um herdeiro.”

“Após o nascimento da criança, a noiva deixará a propriedade e não terá direito a nenhum vínculo com o bebê.”

Ela engoliu em seco,

Dezoito anos. Nenhuma escolha. Nenhum afeto verdadeiro. Apenas uma promessa repetida em silêncio dentro dela desde a adolescência: um dia, eu vou sair dessa casa. Um dia, eu vou ser dona de mim...

Mas hoje não era esse dia.

— Assine logo — murmurou a secretária da família Bellucci, Luna Vasquez, elegante e precisa como uma lâmina afiada.

— O Sr. Bellucci já havia assinado anteriormente. Estávamos aguardando apenas você. Agora teremos que incomodá-lo novamente por causa dessa cláusula ridícula.

O nome dele fez o coração de Dayse acelerar.

Enzo Bellucci. Um nome que já era um peso antes mesmo de se tornar realidade. O homem a quem deveria se unir, a quem deveria entregar um filho. Um rosto que nunca viu, uma presença ausente, mas paradoxalmente opressora. 

Ele não veio. Não precisou vir. Seu nome já havia sido suficiente para traçar os contornos da sua influência sobre ela. Ele enviou o contrato e, com isso, selou o que esperava dela: obediência. 

A caneta tremia entre os dedos.

— Por que ele não veio? — perguntou, num sussurro que quase não chegou à superfície.

— Ele não precisa estar aqui — respondeu Luna, com um sorriso gelado. — Afinal, já está tudo acordado. E... pago.

A palavra cortou mais fundo que qualquer outra.

Pago.

Ela não era uma noiva. Era uma transação. Um ventre alugado.

Dayse olhou para a porta por um segundo. Ela podia se levantar. Podia correr. Podia fugir daquele lugar, daquela vida, daquele nome.

Mas correria para onde?

Voltou o olhar para o papel. A tinta já começava a borrar de tanto que seus olhos ardiam.

Segurou a respiração. Apertou os dentes. E, com a mão trêmula, assinou.

O som da caneta deslizando sobre o papel foi surpreendentemente suave, irônico na suavidade com que selava um destino tão brutal.

Era um gesto simples que carregava o peso de algo muito maior — uma entrega à incerteza, um passo em direção ao desconhecido, um pacto silencioso com as consequências que ainda viriam.

Luna recolheu o contrato sem cerimônia e o colocou na pasta de couro.

— Um carro estará na porta da sua casa às dezenove horas. Vista-se conforme as instruções no envelope — disse ela, entregando um envelope selado.

— O Sr. Bellucci espera você esta noite na propriedade. O quarto já está preparado.

Dayse não respondeu. Estava vazia por dentro.

Ela se levantou devagar, os joelhos quase falhando. O mundo parecia um pouco mais cinza. Mais opressor.

Antes de sair da sala, ainda ouviu a voz de Edmund, baixa e cortante:

— Não me envergonhe, Dayse. Esse é o seu papel. Faça valer o que custou.

Ela não olhou para trás. Não precisava. Já tinha decorado o desprezo no rosto dele.

Lá fora, o vento frio bateu contra sua pele como um tapa. O céu estava nublado, o fim da tarde parecia pesar sobre seus ombros como se o mundo inteiro estivesse de luto.

Ela atravessou a calçada sozinha. Sem vestido de noiva. Sem buquê. Sem sorrisos. Com um contrato na bolsa e um nó apertado na garganta.

“Ela assinou. E naquele instante, mais do que esposa, tornou-se prisioneira.”

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