Mariana
Acordo já com um friozinho na barriga. Hoje é o meu primeiro dia oficial na Prysm e Paola me deu uns 2 dias de treino de coreografia com as meninas. Nesses dois dias, Paola também me levou para assistir a movimentação da noite através de um camarote exclusivo. Fiquei impressionada com o local que é, literalmente, uma caixa de vidro em que você vê todos lá embaixo mas ninguém te enxerga lá dentro. Tem um sofá em couro, no formato orgânico, e uma barra de pole dance no meio da sala para as danças privativas que podem ser individuais ou para um pequeno grupo. Essa sala deve ser para clientes importantes ou quem paga mais. Depois da minha apresentação/entrevista naquele dia, Paola me levou para o escritório dela e, realmente, a proposta foi muito mais tentadora do que eu poderia imaginar. Vou ganhar umas 4 vezes mais do que já ganhei em qualquer outro lugar em que trabalhei na vida! Fora as gorjetas dos clientes, a porcentagem das danças privativas. E fora que se eu quiser um extra posso…me prostituir. Essa informação entalada na minha garganta quando penso e tenho que sacudir de leve a cabeça para desfazer o enjoo que senti ao pensar nisso. - Está tudo bem? - Paola me olha um pouco preocupada. - Sim…sim! - vacilo um pouco a voz mas logo tento ficar firme para Paola não perceber. Ela me olha com um olhar de quem não acreditou muito mas que também não vai forçar a barra. - Me conta um pouco o que fez você chegar aqui? - seu olhar se suaviza. Cara, ela está me analisando? Penso. - Ehh…minha mãe… - respondo nostálgica. - ela está com câncer, começou os exames agora para fazer a químio. Vai ser submetida a cirurgia também, então…todo o processo faz com que ela não possa trabalhar, os custos aumentam, vou precisar ajudar mais do que costumava ajudar financeiramente e os trabalhos de babá que peguei nos últimos 3 anos não seriam suficientes, nem de perto… - Por isso que já tinha um tempo que Dalila comentava de você mas você nunca tinha aparecido… - ela me olha, não com dó, mas como se entendesse a minha necessidade. - Sim. Eu vim para o país em busca de oportunidades na dança, mas não este tipo de oportunidade… - percebo a merda que falei - Quer dizer, procurava a dança profissional, né? Não quis ofender, desculpa. - falo isso meio rápido. Droga, Mariana! Paola solta uma risada honesta. - Não ofendeu. - a gente se entreolha com um pequeno sorriso no rosto. Abaixo a cabeça olhando para as mãos. - Olha Mari, posso te chamar assim não é? - concordo com a cabeça a fitando. - Tem um tempo que participo dos negócios dos clubes da família. Já vi tudo enquanto é causa para mulheres e homens virem param neste negócio. Sua causa é nobre…dê seu melhor, junte um dinheiro e quem sabe você não consegue outras oportunidades melhores em breve? Algumas pessoas passam pouco tempo por aqui até atingir um objetivo. É bem comum na verdade… - ela fala isso com tanta doçura que fico impressionada com seu tato pra essa conversa. Acho que ela percebe minha admiração e dá um leve sorriso. - Você é realmente boa na dança, e recebemos muitas pessoas importantes por aqui, de diversos meios. Quem sabe eu até não consigo te ajudar com isso enquanto estiver por aqui? - ela pisca pra mim e vejo que ela realmente quis dizer aquilo, não só da boca pra fora. - Eu te agradeceria muito, senhora Paola. - ela torce a cara. - Já te falei! Nada de senhora! Tenho 32, sou só seis anos mais velha do que você! - ela faz uma cara engraçada e me dá um tapinha leve no braço. Seguimos conversando um pouco sobre o trabalho dela. Ela me conta que está em tour pelas boates da família nos EUA, fazendo algumas auditorias na qualidade e melhorando ainda mais alguns quesitos, entre eles, as apresentações, os figurinos. Me conta que, em breve, ela volta para Itália onde irá casar e focar nos negócios dela por lá. Vejo que ela é muito inteligente e realmente gosta disso, do gerenciamento. Ela me conta que começou com essa parte dentro dos negócios da família a uns 8 anos, depois de ter formado em administração de empresas em Londres e a uns 2 anos abriu sua própria marca de roupas na Itália para ter o que fazer depois do seu casamento. Não entendi muito bem o porquê dela não continuar auditando as boates que eles tem lá…namorado ciumento, talvez? Continuamos em uma conversa agradável e o tempo passa suave. Nem percebo que consegui controlar minha ansiedade do primeiro dia quando Paola olha o relógio em seu pulso - que deve valer um ano de serviço mais as gorjetas pra mim aqui na boate. - Acho melhor você ir começar a se arrumar. - ela diz suave. - Concordo! - me levanto indo até a porta. - E Paola? - ela me olha. - Obrigada! Nossa conversa realmente me ajudou a ficar menos ansiosa. - dou um sorriso tímido pra ela que concorda com a cabeça. Vou em direção ao camarim para me arrumar para a primeira dança da noite.