Capítulo 3

A maçaneta gira com firmeza. Ele entra. Fecha a porta com um clique seco, e tranca — de novo. Já virou um ritual. Um ritual imprudente, impulsivo, que nos arrasta feito correnteza. Eu nem preciso olhar para saber que é ele. O ar muda. O ambiente muda. Até a luz parece mais quente.

O cheiro do seu perfume amadeirado preenche minha minúscula salinha antes mesmo que ele diga uma palavra. Uma mistura de madeira queimada com algo frio, cortante. Meu coração dá um salto involuntário no peito. E lá está ele — impecável. Camisa branca Giorgio Armani justa nos ombros largos, paletó cinza de caimento perfeito, e aquele olhar. Aqueles malditos olhos cor de gelo que sempre me encaram como se soubessem de algo que nem eu sei.

Ele não fala nada. Só me observa em silêncio, os olhos dançando do meu rosto para o decote discreto da minha blusa. Há algo diferente naquele olhar. Não é só desejo. É uma sombra, um lampejo quase imperceptível de algo mais fundo — uma dor antiga? Um pedido mudo? Não sei. E odeio não saber.

Ele se aproxima devagar, empurra minha cadeira com um toque leve no braço e se senta na beirada da mesa, como quem já sabe que vai tomar o que quer.

— Misa... — digo, com um tom de advertência.

— Que foi? — ele sorri de canto, como se eu fosse só um jogo que ele já aprendeu a vencer.

Eu respiro fundo, tentando recuperar alguma sanidade. Mas ele já está ali, tão perto, os dedos deslizando pelo meu ombro nu, a barba roçando de leve na minha pele. O calor do seu corpo parece irradiar direto para o meu abdômen.

— Não vai acontecer de novo. — Tento manter firmeza na voz, mas até eu ouço a hesitação.

— Isso o quê? — Ele se inclina, mordiscando o canto da minha boca. Um arrepio me atravessa.

— A última vez quase custou meu estágio. — Recuo um pouco, embora meus olhos o desafiem. — Minha chefe nos flagrou, lembra?

— Seu chefe sou eu. — sussurra no meu ouvido, com aquele tom que é veneno e vício.

— Você é só o filho do dono. — digo, seca, cruzando os braços. — Isso não te dá imunidade pra fazer o que quiser.

Ele ri, mas é um riso cínico.

— Futuro dono, você quer dizer. E, tecnicamente, com mais influência que sua coordenadora.

Pego um lápis na mesa e começo a mordê-lo, tentando focar em qualquer coisa que não seja o jeito como ele me olha. Meu corpo inteiro está em alerta, em combustão. Mas minha cabeça... minha cabeça está exausta.

— Esse estágio só existe porque você quis me manter por perto. — encaro ele. — E porque meu pai gostou da ideia. Achou que seria ótimo eu “começar a levar o Direito a sério”, como ele disse. — Faço aspas com os dedos, sarcástica. — Só que a verdade é que ele odiou quando percebeu que eu não queria seguir os mesmos passos dele.

Misa me observa em silêncio por alguns segundos. Seu olhar endurece. Ele nunca soube o que fazer com minha vulnerabilidade — é como se qualquer menção a sentimentos fosse um insulto.

— Então por que aceitou? — ele pergunta, quase frio.

— Porque eu sou burra. — digo, rindo sem humor. — Porque, no fundo, achei que talvez você quisesse me ver aqui por... sei lá, por algo além do sexo escondido.

Ele levanta, se aproxima de novo. Os olhos ardem, mas há algo neles — um pedido abafado, uma vontade interrompida.

— Você sabe que eu quero. — diz, baixo. E, por um segundo, parece sincero.

Mas sinceridade não basta. Não mais.

— Não. Eu sei que você quer transar. — digo, encarando firme. — E isso é diferente.

Ele se inclina sobre mim, a respiração acelerada.

— Para de provocar.

— Me obrigue. — sussurro, e nesse instante, eu também me traio. Porque eu quero. Deus, como eu quero.

Ele me puxa para o colo dele com uma urgência quase desesperada. Suas mãos deslizam para minhas coxas, apertando com força, e sua boca encontra a curva do meu pescoço como se estivesse faminta. Um gemido escapa dos meus lábios, e meus dedos já estão no zíper da calça dele.

Mas mesmo ali, no meio da excitação, há algo errado. Há silêncios demais entre os nossos toques. Há raiva junto com o prazer. Há orgulho nos nossos gemidos.

Eu o encaro quando ele rasga minha calcinha com brutalidade e geme em resposta.

— A gente é um desastre. — digo, arfando.

— E mesmo assim, você continua vindo. — ele rosna, os olhos cravados nos meus.

— E você continua me trancando aqui dentro. — rebato, enquanto ele me deita sobre a mesa e puxa minha saia para cima.

Não somos sinceros. Não somos corajosos. Somos apenas dois imaturos orgulhosos que confundem desejo com presença, que fingem que não se importam — enquanto imploram, em silêncio, para que o outro fique.

Olhei para o canto da tela do notebook e os números pareciam me sorrir: 17:59. Um minuto. Um único e precioso minuto até o expediente acabar. Respirei fundo, sentindo o peso de um dia inteiro de silêncio forçado entre os cubículos e do nó apertado que estava preso no meu peito desde que entrei naquele elevador com ele.

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