~Na voz de Clara~
Acordei no meio da madrugada com o som distante das ondas quebrando lá fora. A mansão estava mergulhada em um silêncio profundo.
Senti sede. Ao olhar para o criado-mudo, vi que a garrafa de água que dona Eugênia sempre deixava estava vazia. Levantei-me com cuidado, para não acordar Lorenzo, que dormia profundamente ao meu lado.
Abri a porta do quarto em silêncio e desci as escadas segurando a garrafa de vidro. A casa estava meio às escuras, iluminada apenas por alguns fachos de luz que escapavam pelas frestas das cortinas.
Foi então que ouvi — um som baixo, entrecortado. Soluços. Alguém chorava.
Meu coração acelerou, mas continuei descendo devagar, até que, ao virar para a sala, vi uma cena que me tocou profundamente: dona Victória, aquela mulher imponente, orgulhosa e sempre contida, estava sentada no sofá, encolhida, chorando enquanto segurava um porta-retrato.
Era uma foto de dona Rose.
Por um instante hesitei, mas não consegui simplesmente ignorá-la.
Aproximei-me