~Na voz de Lorenzo~
O dia passou preso às paredes do quarto na cobertura do Plaza — a ressaca física e a moral batiam juntas. Nunca tinha perdido tanto o controle como na noite anterior. Clara me deixava assim: fora de mim, inquieto, dividido entre o impulso e o orgulho.
Meu coração queria procurá-la, mas a razão me mandava ficar quieto. Liguei para o hangar e pedi que preparassem o jatinho. Iria a Portugal — lá, ao menos, não teria como procurá-la a cada minuto. Além disso, era o aniversário do meu pai no fim de semana. Que fosse logo, então.
Passei o dia deitado, sem vontade de falar com ninguém. No fim da tarde levantei, tomei um banho e pedi um suco natural de laranja, servido num copo alto, com gelo e pedaços de polpa — simples, mas forte o bastante para afastar o gosto amargo do álcool. Fechei a mala, desci o elevador e voltei à minha postura habitual: fria, contida, impenetrável.
O carro deslizava pelas ruas de Manhattan, mas o pensamento em Clara me perseguia. Quando cheguei a