Florença | Toscana
Hoje acordei com uma sensação estranha no peito. Já faz algumas semanas que a madre ordenou que eu participasse das aulas que ensinam as meninas a se comportarem diante de um homem. Não sei o motivo, mas, geralmente, só frequentam meninas que estão se casando, o que aumenta ainda mais o meu medo. — Para, Angel! — Sofia b**e na minha mão. Eu estava roendo as unhas de nervoso. — Acho que vou casar, Sofia… Meu Deus, eu só tenho 18 anos… — Você ainda não sabe se é isso. — É claro que é! — O que está aprendendo nessas aulas? Meu rosto automaticamente fica vermelho. — Eu não consigo falar... — Para com isso, Angeline Rossi. Fala logo! — Ensinam como devemos agir na cama… Sabe… Quando estamos… — faço gestos com as mãos. — Ensinam vocês a transarem? — Sofia! Ela começa a rir. — Qual é a graça? — Isso… Como podem ensinar? Imagino que elas digam que você deve ficar deitada na cama como uma estátua, né? Concordo envergonhada. — E devemos obedecer ao nosso marido, tudo que ele ordenar é lei. Ela revira os olhos. — Que babaquice! — Estou com medo, Sofia... Eu não sei fazer isso... — começo a chorar. — Ei! Calma, tá legal? Pode ser que o seu marido seja bom. — Na máfia? Acho meio difícil… — Tem razão. — Se senta do meu lado. Batem na porta. — Entre! — Sofia diz. — Angeline, você tem visita. — Uma irmã diz e saí. Visita? Nunca recebi nenhuma visita. — Que estranho… — O que foi? — Eu nunca recebi visita, quem deve ser? — Vá olhar… Agora, estou curiosa. Saio dos dormitórios e sigo para a sala de visitas, limpei lá algumas vezes. Meu coração batia forte no peito, quem poderia ser? Será que é Luigi? Assim que entro na sala, um homem mais velho me olha. — Não vai me abraçar, filha? — abre um sorriso asqueroso. Fico totalmente sem reação, esse homem é meu pai? Não me lembro do rosto dele, acho que minha memória só quis esquecer o passado. — Pai? — Sim, Angeline. Sente-se! Fico confusa com sua mudança de humor, me sento em uma poltrona na sua frente. — Desculpe-me agir assim, Senhor, apenas não me lembrava do seu rosto. — Vejo que foi bem-educada, Angeline. Gosto disso. Abro um pequeno sorriso. — O motivo de eu vir aqui hoje é para dizer que vai se casar. Minhas suspeitas estavam corretas, meus olhos se enchem de lágrimas, mas não derramo nenhuma. — Levarei você para casa amanhã cedo, seu casamento será daqui a 1 mês. — Por que tão rápido? — É o desejo do seu noivo. — Como quiser, pai… Era tão estranho chamar esse desconhecido assim. — Agora pode ir. Levanto sentindo minhas pernas falharem, ando até a porta. — Até mais, Angeline… Escuto sua voz antes de sair. Começo a chorar no corredor mesmo, não me importo que vejam. Entro batendo a porta do quarto. Sofia estava sentada na cama e me olha preocupada. — Angel? O que aconteceu? — Vou me casar… Ela me olha triste e me abraça. Passo a noite inteira assim com ela, chorando em seus braços. {…} Era cedo quando acordei, na verdade, nem dormi direito, meus olhos estavam inchados e vermelhos. Estava indo para a sala da madre que havia me chamado, andava lentamente, querendo que o tempo parasse. Bato na porta com certa fraqueza. — Entre! A madre me olha com tristeza, me sento antes mesmo que ela permita. Se ficasse em pé por mais 1 minuto, cairia desmaiada no chão. — Está pálida, Angeline, não se alimentou? — Não sinto fome, madre. — Sinto muito, querida, sabe que se pudesse mudar isso, faria com certeza. — Diga que não estou preparada para casar, madre. Talvez o meu pai te escute. — Ah, querida… Seu pai já sabe que virou moça com 14 anos, mando todos os relatórios para ele. Preciso que saiba de uma coisa. Olho para a mesma triste. — Seu noivo não é qualquer pessoa, precisa se preparar, Angeline. Você irá se casar com o nosso líder, será a futura primeira dama. Olho para ela, pasma. — Vou me casar com o irmão de Sofia? — Sim, Angeline. Matteo Fontana. — Ele só me viu uma vez, como pode isso? Ela abaixa a cabeça. — Eu não sei… Você é como um anjo, Angeline, encanta a todos com sua beleza, deve ser isso que despertou o demônio dele. Ela fecha a boca assim que percebe o que falou. {…} Estava sentada no jardim, não conseguia parar de chorar, achava que a vida estava sendo injusta comigo, me casar tão cedo assim? Eu só tenho 18 anos, por que ninguém pensa nisso? — Angel? Olhei para Sofia, parada na minha frente, estava com tanta raiva que tinha medo de descontar nela. — Procurei você no refeitório, não vai almoçar? — Sabe com quem vou me casar? Mais lágrimas caíram dos meus olhos. — Com quem? — se sentou do meu lado. Olhei dentro dos seus olhos, só queria gritar para o mundo todo me ouvir. — Com o seu irmão… Um silêncio se fez presente. — Não pode ser… — A madre me contou, vou embora amanhã com meu pai… — O Matteo só te viu uma vez e foi o suficiente para despertar seus demônios. A mesma frase que a madre disse. — Como assim? — Não é nada, Angel… Sinto muito… — Estou com medo. — Deve mesmo temer, Matteo não é flor que se cheire. Escuta aqui, Angel… Não importa o que aconteça, seja sempre obediente, não queira conhecer o pior lado do meu irmão. — O que faço, Sofia? — Seja forte, não deixe que ele te quebre… — me abraçou. Se você soubesse, eu já estou quebrada. {…} — Está tudo pronto? A madre perguntou serenamente, arrumei uma pequena bolsa com algumas coisas, meu pai já me esperava lá fora. — Tenho mesmo que ir? — Conversamos sobre isso, querida… Abaixei a cabeça com tristeza. — Darei um jeito de ir para casa, não se preocupe… Não ficará sozinha. — Sofia diz em meu ouvido. Saímos do quarto, lá fora, meu pai esperava em frente a um carro, abraço novamente Sofia e depois a madre. — Vamos, logo, Angeline! Entro no carro e ele faz o mesmo, no caminho até o aeroporto, ele não tenta falar comigo, não pergunta se estou bem ou qualquer coisa do tipo, realmente somos dois estranhos. No avião, observo tudo com curiosidade, é a minha primeira viagem, pelo menos que eu lembre, tento me manter calma, meu pai mexe no celular constantemente, parece que sou invisível. {…} Calábria | Catanzaro A viagem durou algumas horas, observo da janela do carro a cidade, tudo parece tão incrível, me pergunto se poderei conhecer todos os lugares daqui. O carro para em frente a uma casa enorme, não é uma mansão, porém é grande. Vejo meu pai descer e faço o mesmo, sigo-o como uma sombra. Na casa, dois homens nos esperam, um que reconheço ser meu irmão Luigi devido às fotos que me mandava, o outro presumo ser meu irmão mais velho. — Angeline! — Luigi me abraça. — Olá, irmão! — Você cresceu, pirralha. — Pequena, Angeline… Sinto um arrepio estranho quando meu irmão mais velho fala comigo, pequenas lembranças voltam em minha memória. Flashback on. — Não se esconda, pequena, Angeline… — Me deixe em paz, Leonardo… Eu não quero brincar assim! Ele puxa meus pés, me tirando debaixo da cama. — Não seja teimosa, só quero tocar em você, não me negue o que é meu. Flashback off. — Angeline? Olho em seus olhos, me sinto sufocada com sua presença. — Oi… — Não recebo nenhum abraço? Com um grande esforço, me aproximo dele. — Angeline, pode subir para seu quarto, deve descansar da viagem, amanhã à noite será o jantar de noivado. — Sim, senhor! — Vem, eu te levo. Luigi vai à frente e eu o sigo, percebo Leonardo me olhando e ignoro. Luigi para em frente a uma porta e abre, me dando passagem, entro em um quarto rosa, tem uma cama de casal, uma cômoda e um pequeno guarda-roupa. — Arrumamos tudo às pressas, nosso pai avisou em cima da hora que viria. — Está tudo bem… — Vou deixar que descanse, nos vemos no jantar. — beija minha testa e saí. Me sento na cama olhando em volta, o quarto não é grande, mas parece aconchegante. Me levanto e abro o guarda-roupa, percebo que há algumas roupas nele, nas gavetas há roupas íntimas, alguns acessórios e sapatos também, tudo estava novo e na etiqueta, não eram muitas coisas. Resolvo tomar banho e dormir um pouco, parece que a partir de amanhã minha vida será longa.