A manhã começou mais cedo que o habitual. O hospital ainda parecia adormecido quando entramos no elevador com Giulia nos braços de Miguel, envolta em uma manta rosa que ela mesma havia escolhido. As bochechas redondas estavam pálidas, mas os olhos... ah, os olhos dela ainda brilhavam com a curiosidade de sempre. Como se não estivesse prestes a enfrentar algo que nenhuma criança deveria conhecer tão cedo.
Eu caminhava ao lado de Miguel, tentando esconder a mão trêmula no bolso do casaco. Por fora, o silêncio. Por dentro, o caos.
A ala de oncologia pediátrica era diferente de tudo o que eu já tinha visto. Os corredores tinham desenhos nas paredes: leões sorrindo, astronautas flutuando em planetas coloridos, unicórnios com asas. Tudo muito bonito. Muito pensado. Muito doloroso. Porque era exatamente isso que tentavam fazer ali — disfarçar o horror com cor.
Miguel não disse uma palavra enquanto a enfermeira nos guiava até a sala de quimioterapia. Seus dedos apertavam os de Giulia com firm