O dia parecia não ter fim.
As horas no escritório se arrastaram entre reuniões tensas, ligações sem solução e a pilha de relatórios que eu ainda precisava revisar antes de segunda. Quando finalmente consegui sair, o céu já estava tingido de tons alaranjados, e o trânsito da cidade me lembrou que a sexta-feira ainda não tinha acabado.
Dirigi em silêncio, o som abafado do motor me servindo de companhia. O telefone tocou duas vezes — ignorei ambas. Tudo o que eu queria naquele momento era silêncio.
Mas, quando o elevador se abriu e a porta da cobertura deslizou, fui recebido por algo que imediatamente dissolveu parte do peso do dia.
— Papai! — a voz de Clara soou doce e animada, e antes que eu pudesse reagir, um pequeno turbilhão de cachos e perfume infantil se jogou nos meus braços.
Ela segurava um buquê de girassóis quase maior que ela.
— Surpresa! — disse, rindo. — Eu comprei pra você!
Abaixei-me, ainda meio surpreso, e senti o cheiro das flores se misturar ao dela — aquele aroma leve