A casa estava em silêncio quando fechei a porta do quarto de Clara.
O abajur em formato de nuvem deixava um tom suave de luz no ambiente, e ela dormia abraçada ao urso que Serena lhe dera no primeiro dia. Ajeitei a coberta até o queixo dela e fiquei ali por um instante, observando o ritmo tranquilo da respiração da minha filha. Era raro tê-la assim, serena — sem trocadilhos. Desde que Marina desaparecera de vez, Clara tinha dificuldade em adormecer. Sempre pedia uma história, um colo, uma presença. Hoje, no entanto, parecia completamente em paz.
Sorri de leve, passei a mão em seus cabelos finos e murmurei: — Boa noite, pequena.
Quando me virei, ouvi o som distante da chuva batendo contra as janelas da sala. O relógio do corredor marcava quase onze da noite. Eu pretendia apenas pegar um copo d’água e talvez revisar alguns e-mails antes de dormir, mas o aroma que vinha da cozinha me fez mudar o rumo.
Canela.
E um toque de limão.
Desci os degraus devagar, a gravata pendurada em volta do