A manhã já tinha começado em chamas. Eu mal havia tomado o café direito e já estava trancado há quase duas horas em uma reunião que parecia não ter fim. A sala de conferências estava quente, o ar-condicionado lutava para dar conta e a tensão era quase palpável.
De um lado da mesa, o representante do cliente falava alto, exaltado, batendo os dedos contra o tampo como se quisesse deixar cada palavra marcada. Do outro, meu sócio — e melhor amigo — tentava manter a calma, explicando, ponto por ponto, o motivo pelo qual o atraso na entrega não era culpa da nossa equipe. Eu só conseguia pensar no ponteiro do relógio se arrastando.
— Nós já explicamos a situação, senhor Marconi — falei, tentando manter o tom neutro. — O problema com o fornecedor foi resolvido e os novos prazos estão sendo cumpridos.
— Resolvido? — ele riu, sem humor. — Eu perdi dinheiro. E agora vocês querem que eu confie na palavra de vocês?
Senti o músculo do maxilar travar. Respirei fundo, contando mentalmente até três.
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