O corredor da entrada da casa estava mais escuro que o normal. A lâmpada da frente piscava, teimando em morrer, e me deu vontade de trocá-la ali mesmo, antes que Marta descobrisse e fizesse um relatório oral sobre minha suposta negligência. Mas hoje... ela não estava lá. Pela primeira vez em dias, a casa me esperava em paz.
Respirei fundo antes de girar a chave.
O cheiro veio primeiro, aquele perfume de comida feita na hora, misturado com algo mais doce. Canela? Quando empurrei a porta, ouvi a voz baixa da Giulia vindo da sala.
— ...e o urso disse: “eu também te amo, mamãe”.
Isa.
Sorri antes mesmo de vê-las.
Larguei a pasta no aparador e caminhei devagar, só para observar. Giulia estava no colo dela, com um livro aberto sobre os joelhos. As duas dividiam uma manta felpuda, e o cabelo castanho de Isabella caía sobre o rosto, iluminado por uma luz quente de abajur. Ela parecia tranquila. Familiar. Como se aquela cena sempre tivesse existido — e eu é que estivesse atrasado para entender.