A luz quente e dourada do final da tarde em Madrid banhava a nossa sala de estar, criando um reflexo dançante no chão de madeira clara. Respirei fundo, deixando o aroma reconfortante da paella que o meu pai insistira em preparar se misturar ao doce das flores que a Isa trouxera. Ainda me custava acreditar, às vezes, que aquela era a minha vida. A nossa vida.
Fiquei parada na porta da varanda, com uma xícara de chá morna entre as mãos, e simplesmente observei. Meu coração se encheu de uma paz tão profunda que quase doía. Há menos de dois anos, meus dias eram uma névoa cinzenta em São Paulo, um vazio que achava que nunca seria preenchido. Agora, aqui estava.
No centro do tapete, a Serena, com seus olhinhos arregalados que eram uma cópia perfeita dos do Noah, dava seus primeiros passinhos cambaleantes. As mãozinhas minúsculas se agarravam com uma força surpreendente aos dedos da mãe do Noah, que estava ajoelhada à sua frente.
— Vem, minha estrelinha, vem para a vovó — ela coaxava, num p