A luz da manhã atravessava os enormes janelões da galeria, pintando retângulos dourados pelo chão de madeira. Eu estava ali, parado em frente a uma das telas que faria parte da minha primeira exposição solo, e ainda assim, minha mente estava a quilômetros de distância.
— Noah, precisamos definir a sequência final para o catálogo — disse Javier, meu curador e braço direito nesse projeto. Ele segurava uma prancheta cheia de anotações, com a paciência de quem já me conhecia bem demais. — E também falta aprovar o material de divulgação que vai para os jornais de Madrid.
Assenti, passando a mão pelos cabelos e tentando me concentrar.
— Certo… — respondi, mas ao mesmo tempo, uma imagem tomou conta da minha mente: Serena rindo no meu colo, abraçada ao ursinho que comprei na noite passada.
Era surreal. Por meses, eu acreditei que estava sozinho no mundo, tentando preencher o vazio com pinceladas, cores e telas imensas. Agora, de repente, havia uma garotinha com meus olhos e o sorriso da Giuli