Ava
O sol batia no vidro da janela, filtrado pelas folhas alaranjadas lá fora.
Era um calor gostoso, silencioso, que invadia o quarto sem pedir licença.
Eu me virei na cama de lençóis claros e macios.
Por um instante, não reconheci o lugar.
Não havia barulho de trânsito, nem passos apressados, nem despertadores violentos.
Só o som do vento lá fora e dos pássaros anunciando que o mundo ainda existia.
Me sentei devagar.
Estava com a camisa dele.
Era grande, macia, cheirava a madeira e alguma colônia que grudava na pele como memória boa.
Passei os dedos no tecido. Sorri.
Levantei.
Quando me aproximei do espelho do quarto, respirei fundo.
A mesma Ava de sempre estava ali. Mas havia algo… diferente.
Eu não me xinguei.
Não torci o nariz.
Não tentei esconder meu corpo com os braços.
Pela primeira vez em muito tempo… eu só me olhei.
E, por um segundo, me achei bonita.
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