A Noiva Errada do Sheik
A Noiva Errada do Sheik
Por: Ella Black
Capítulo 01

Pov - Arabella Whitmore

Helena voltou de viagem como sempre voltava de tudo: ocupando espaço.

Sua mala ainda estava no hall quando ela já falava, gesticulando com entusiasmo exagerado, descrevendo hotéis que pareciam palácios e jantares que meus pais ouviam como se fossem relatos de um conto distante. A viagem fora um presente de aniversário — mais um entre tantos — e, como esperado, ela fizera questão de aproveitá-la até o último detalhe.

— Dubai é surreal — dizia, sorrindo. — Tudo é grande demais, brilhante demais. É impossível não se sentir especial lá.

Minha mãe observava com orgulho. Meu pai assentia, satisfeito por ter proporcionado mais uma experiência memorável à filha favorita, ainda que jamais admitisse isso em voz alta.

Eu permaneci encostada no batente da porta da sala, apenas ouvindo.

Helena sempre teve esse dom. Onde ela chegava, o mundo parecia girar em torno de si. Mas eu a conhecia bem demais para me deixar enganar completamente por aquele entusiasmo.

Havia nervosismo escondido entre os sorrisos. Pequenos silêncios fora de ritmo. Um brilho inquieto no olhar.

Quando nossos pais finalmente se recolheram, Helena me seguiu escada acima, ainda falando, ainda rindo, até que, já no corredor, sua voz perdeu força.

— Bella, espera.

Entrei no meu quarto, acendendo apenas o abajur. A luz suave desenhou sombras conhecidas nas paredes, trazendo uma sensação breve de segurança. Helena fechou a porta atrás de si e permaneceu ali, parada, como se tivesse esquecido o motivo de ter vindo.

— Você está estranha desde que chegou — observei.

— Estou? — respondeu rápido demais. — É só o fuso.

Ela se sentou na poltrona perto da janela, cruzando as pernas com elegância estudada, mas seus dedos se moviam sem parar sobre o tecido do vestido.

— Helena — chamei com cuidado. — O que aconteceu?

Ela suspirou, passando a mão pelos cabelos castanhos e longos como os meus, porém, mais esticados, perfeitamente arrumados.

— Às vezes eu me pergunto se as pessoas realmente sabem o que querem... ou se apenas gostam da ideia de querer.

Sentei-me na cama, sentindo o aviso silencioso se formar dentro de mim.

— Isso não parece conversa de quem só está cansada.

Ela sorriu, frágil.

— Eu conheci alguém na viagem.

Esperei.

— Foi rápido — continuou. — Intenso. Daqueles encontros que fazem tudo parecer inevitável.

Meu coração apertou.

— E?

Ela engoliu em seco.

— Ficamos noivos.

A palavra pareceu errada no quarto. Grande demais. Definitiva demais para Helena.

— Noivos? — repeti, em choque. — Você nunca falou desse noivado quando nos telefonou durante a viagem.

— Porque queria fazer isso pessoalmente — disse, com a voz trêmula. — Mas agora... agora entendo que me precipitei e estou com medo.

Senti meu humor obscurecer, ao imaginar o que poderia amedrontá-la a ponto de ter escondido o noivado da família.

— Medo de quê?

— De estar presa por causa de uma atitude impulsiva. De ir até o fim e perceber que não é a vida que eu quero por nossas culturas serem tão diferentes. — Seus olhos se encheram de lágrimas. — Mas se eu for até lá de novo... eu não sei se consigo dizer não.

Aquilo soou verdadeiro. E sabia que era. Não tinha ideia se a família e até mesmo o noivo de Helena eram culturalmente tradicionais, porém, sabia que se fossem, minha irmã seria infeliz por ter a alma livre demais. E era por isso que ela estava com lágrima nos olhos. Porque ela seria capaz de abrir mão dessa liberdade para honrar a promessa que fez por impulso a esse homem por quem teve uma simples paixonite. O que não era justo para nenhum dos dois. 

Levantei-me, aproximando-me dela por instinto.

— Você não pode se obrigar a nada — respondi. — Um noivado não é uma prisão. Se sente que não pode lidar com a diferença cultural, deve deixar isso claro para ele e romper esse noivado. Você não teria aceitado se ele não tivesse um pingo de bondade, então acredito que esse homem entenderá.

— Eu sei. — Ela respirou fundo, como se estivesse reunindo coragem. — Mas não é tão simples assim. Ele é... intenso. Seguro de si. E eu tenho medo de fraquejar.

Houve um silêncio curto, pesado.

— Às vezes penso — continuou, quase distraída — que tudo teria sido diferente se não fosse eu indo falar com ele. Se fosse alguém que não estivesse envolvido. Alguém que não se deixasse levar.

Franzi a testa.

— Como assim?

Ela me encarou então, com aquele olhar que sempre misturava fragilidade e expectativa.

— Você, Bella. Você sempre foi assim. Firme. Justa. Quando decide algo, vai até o fim. — Apertou minhas mãos com delicadeza. — Se fosse você conversando com ele… ele entenderia. Não tentaria me convencer. Não usaria da minha empatia para tentar me fazer honrar esse noivado. 

Meu coração acelerou, como se tivesse entendido antes de mim.

— Você está dizendo que eu deveria ir até lá terminar com seu noivo no seu lugar? — perguntei, ainda incrédula.

Helena não respondeu de imediato. Apenas abaixou a cabeça, como quem já se sentia culpada por pedir demais.

— Eu não pediria se não estivesse realmente com medo de ele não entender e me fazer ficar — murmurou.

Aquilo me inquietou mais do que o pedido em si. Helena não insistiria nesse ponto se não acreditasse, de fato, que perderia a firmeza diante dele. Ainda que eu não conseguisse compreender o porquê.

— Helena... — comecei, meio incerta de como continuar, a mente girando com o pedido inusitado. — Isso não está certo! Se você teve coragem de aceitar o noivado, tem que ter também para rompê-lo. Não pode pedir que terceiros terminem um relacionamento por você.

— Você está certa. Como sempre. — A voz saiu baixa, contida. — Mas eu... eu não sei se conseguiria sustentar isso até o fim.

As palavras se perderam quando ela desviou o olhar. Não tinha choro, apenas um silêncio pesado e triste, daqueles que dizem mais do que qualquer confissão.

— Então por que aceitou? — perguntei, com suavidade.

Helena demorou a responder.

— Porque, naquele momento, tudo parecia simples — disse enfim. — E agora nada parece.

Senti-me compadecida, ciente de que o noivado tinha sido mais uma das loucuras da minha irmã no auge da sua felicidade, onde ela só pesava a responsailidade do ato depois da euforia passar.

Não conhecia seu noivo, mas quase senti pena do pobre homem por ter sido apenas mais um dos rompantes de entusiamo de Helena. Só não cheguei a sentir de fato, porque, pelo relato da minha irmã, ele aparentava ser um homem bem intimidador para que Helena, tão livre e forte como era, fosse incapaz de romper o noivado com receio da reação dele... ou, mais precisamente, com receio do seu poder de persuasão.

No fim, respirei fundo, sabendo que precisava de tempo para processar o problema que minha irmã mais velha havia se enfiado.

— Você não precisa decidir nada hoje — acrescentei. — Mas fugir não vai apagar o que já foi dito.

Ela assentiu, lentamente.

— Eu só precisava que você soubesse — murmurou. — Que não foi levianidade.

Quando ela saiu do meu quarto, fiquei parada por alguns segundos, encarando a porta fechada.

Algo havia sido colocado sobre mim sem ser nomeado. Uma responsabilidade que eu não pedira, mas que, de algum modo, parecia já ter sido aceita.

Naquela noite, demorei a dormir, ao ficar me questionando se seria mesmo tão ruim assim tomar o partido de minha irmã, quando essa não seria a primeira vez que eu cedia para preservar sua paz.

Helena sempre fora assim. Intensa, impulsiva, certa de que o mundo se ajustaria depois.

E eu sempre fora a que ficava para juntar os pedaços.

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