— E tem mais uma coisa, Ryan — disse o avô com voz firme, ao se levantar e ajeitar o paletó. — A partir de amanhã, a sua nova secretária será escolhida por mim.
Ryan arregalou os olhos e soltou uma risada sarcástica, cruzando os braços. — Agora o senhor tá querendo brincar comigo, né? Vai me colocar uma velha no meu pé só pra me punir? O avô manteve o olhar firme, sem esboçar humor. — Não, meu neto. A sua nova secretária será... a sua futura esposa. O silêncio cortou o ar como uma lâmina. Ryan perdeu o sorriso imediatamente. — O quê? — balbuciou, empalidecendo. — Exatamente o que ouviu. A partir de amanhã, você terá que conviver com ela todos os dias. E mais: você vai se casar. E não será com uma empresária velha e cheia de frescuras, como você tem. Vai ser uma surpresa. Uma mulher de verdade, que merece respeito. E você vai ter que se comportar como um homem decente. Chega dessa vida de libertino. — Vovô, isso é loucura. O senhor não pode decidir quem eu vou casar! — Posso, sim. Enquanto eu for o dono da maior parte dessa empresa e carregar esse sobrenome com honra, posso tudo. E tem mais: vou redigir um contrato de um ano, com cláusulas claras. Você será fiel à sua esposa, ou eu transfiro todas as minhas ações para ela. E, se isso acontecer, meu querido neto... você se tornará apenas um funcionário. Ryan empalideceu de vez. — Isso é chantagem. — Não. Isso é justiça. E uma lição que você precisa aprender antes que destrua o legado da nossa família. A secretária que você se engraçou aqui dentro está demitida. E se repetir esse tipo de comportamento, nem mesmo seu sobrenome vai te salvar. Está entendido? Ryan ficou em silêncio por alguns segundos, respirando fundo. — E se eu me recusar? O avô deu um passo à frente, encarando-o nos olhos. — Então você pode pegar as suas coisas e procurar emprego em outro lugar. Porque aqui... as regras agora são minhas. E saiu, deixando o neto em choque, engolindo o orgulho e a liberdade, que até aquele instante ele acreditava que ninguém jamais tomaria dele. NO DIA SEGUINTE, NO ESCRITÓRIO DE SR. ETTIENE Ela havia limpado todos os andares com dedicação. A manhã passou depressa, e quando o relógio marcou o horário combinado, enxugou as mãos com o pano do avental, tirou a luva e foi até a recepção do andar presidencial. — Com licença,— disse timidamente à secretária do Sr. Ettiene. — Poderia avisar a ele que eu estou aqui, por favor? A mulher ergueu os olhos do computador, olhou de cima a baixo a faxineira alta, de postura firme e rosto escondido atrás de óculos de grau fundo de garrafa. O coque preso por baixo da touca branca, o avental amarrado com nó justo, calça comprida, botas nos pés, camisa larga encobrindo as formas. Havia algo nela... altivez em meio à simplicidade. — Claro, só um instante. Poucos minutos depois, a porta do escritório se abriu. — Ele pediu que entre — disse a secretária, ainda surpresa. Ela respirou fundo, limpou a sola das botas no tapete antes de pisar, e entrou. O escritório era imponente, mobiliado em madeira nobre e paredes revestidas com estantes de livros antigos. Atrás da mesa, Sr. Ettiene levantou-se com um sorriso cordial. — Sente-se, minha filha. Ela obedeceu, sentou-se com cuidado, ajeitando o avental. — E então? Conseguiu? Ela assentiu, com os olhos marejando. — Sim, senhor, hoje minha mãe fez os exames pré-operatórios. A cirurgia já está marcada para este fim de semana, tudo graças ao senhor. Eu não sei como agradecer. — Não precisa agradecer. Eu só fiz o que um homem decente faria. Mas agora sou eu quem tem uma proposta a lhe fazer. Ela franziu o cenho, confusa. — Proposta? — Sim. Primeiramente: a partir de amanhã, você será promovida. — Promovida? Como assim? — Você será a nova secretária do meu neto. Ela ficou imóvel por um instante. — Secretária? Mas,senhor Ettiene eu, nem sei o que falar. — Eu verifiquei sua ficha. Você está no último semestre da faculdade de Direito. Uma das melhores alunas da turma. E mesmo assim, trabalha aqui como faxineira para sustentar sua mãe. Isso diz muito sobre seu caráter. Discrição, inteligência, firmeza de conduta... exatamente o que meu neto precisa. Ela engoliu seco, surpresa. — Mas ele nem sabe quem eu sou. O velho sorriu, com os olhos faiscando sob as lentes finas dos óculos. — Ainda não. Mas vai descobrir. E essa será a parte mais interessante dessa história. Ele se levantou, pegando um envelope dourado sobre a mesa. — Este é o contrato de confidencialidade. Você vai assinar. Ninguém saberá que você trabalhava como faxineira antes. A partir de amanhã, você será a secretária executiva de Ryan Ettiene. Ela arregalou os olhos, sentindo o coração acelerar. Uma promoção assim de repente. O silêncio pairou entre os dois por alguns segundos. Ela ainda segurava o envelope com o contrato de confidencialidade quando ele puxou a gaveta e tirou uma nova pasta, de cor preta, com o brasão da família impresso em dourado. — Agora vem a segunda parte... — ele disse, com a voz mansa, porém carregada de decisão. — Quero lhe fazer uma proposta de contrato pessoal. Ela franziu o cenho, ainda mais surpresa. — Contrato pessoal? — Exato. Eu quero que você se case com o meu neto. E que me dê um bisneto. Ela levou a mão ao peito, quase rindo de nervoso. — Com o seu neto? O Dr. Ryan? — Sim, com ele mesmo. Ela piscou, engolindo a surpresa, e então respondeu, com a voz firme: — Me desculpe, senhor, mas o seu neto... ele está no grupo de risco dos homens que eu aprendi a evitar. É promíscuo. Todos os dias há algo sobre ele nas revistas de fofoca — e isso nem sou eu que vejo, ouvi os funcionários comentando nesses poucos dias em que estou aqui. Ele... até onde sei, tem um caso com a própria secretária. Sr. Ettiene arqueou uma sobrancelha, com um leve sorriso nos lábios. — Justamente por isso você vai substituí-la. Ela já foi demitida. Ela ficou em silêncio por alguns segundos, absorvendo a informação. — Eu, em sei o que dizer. — Não precisa dizer nada ainda. Apenas escute. Este contrato — ele ergueu a pasta preta — será por um ano. Você será a esposa legal de Ryan Ettiene. Em troca, eu lhe darei 20% das ações da Ettiene Corporation, em seu nome. Isso fará de você uma acionista majoritária, com poder de voto e comando real. Ao final de um ano, se não quiser continuar, será livre para sair — e levará consigo seu nome limpo, seu diploma e um patrimônio digno. Poderá trabalhar aqui ou em qualquer outra empresa do grupo. Mas, acima de tudo, terá mudado o futuro da sua mãe... e, espero eu, o do meu neto também. Ela respirou fundo, confusa, o coração disparado no peito. — Eu posso pensar? — Claro. Pode pensar — ele disse, se recostando na cadeira, cruzando os dedos sobre o peito. — Mas quanto à vaga de secretária... essa não espera. Amanhã, às oito, você começa. Ele se levantou, caminhou até ela e estendeu a mão. — E quanto à proposta de casamento bem essa é uma escolha que pode mudar a história de toda uma geração. Ela se levantou devagar, apertando a mão dele com firmeza. — Obrigada por acreditar em mim, senhor. Eu vou pensar com muito cuidado. E então se retirou, deixando o escritório com as pernas bambas e o coração em guerra. — Mas por que eu? Ele se aproximou e pousou uma das mãos sobre a dela. — Porque eu preciso de alguém que não se curve ao poder dele. E porque você é a única que, sem dizer uma palavra já me provou que é diferente de todas as outras.