A porta do escritório se abriu e a secretária do setor executivo, uma senhora de seus quarenta e poucos anos, apareceu à porta com um sorriso tímido.

— Dr. Ryan? Seu avô está aqui — anunciou com formalidade.

Ryan, atrás da escrivaninha de mogno, com as mangas dobradas até o cotovelo e o paletó pendurado na cadeira, levantou o olhar com tédio.

— Pode mandar entrar.

Etienne entrou com passos firmes, apoiando-se levemente na bengala de madeira escura. Atrás dele, com passos contidos e postura ereta, vinha Imer — vestida com calça de tecido folgada, camisa cinza opaca, óculos de armação grossa e o cabelo preso num coque sem charme.

Ryan franziu o cenho ao ver aquela figura.

— Essa aí você está de brincadeira né vovô? — perguntou, com o cenho arqueado, mal disfarçando o desprezo. — É essa que vai ser minha nova secretária?

Ettiene cruzou os braços, desafiador.

— Exatamente. A partir de amanhã. E mais: é essa aí que escolhi para ser sua futura esposa também, só depende dela aceitar.

Ryan abriu a boca para retrucar, mas foi Aimée quem o calou. Ela deu um passo à frente, olhou nos olhos dele por trás das lentes e falou com firmeza cortante:

— Antes eu tinha dúvidas, mas agora não tenho mais. Aceito sua proposta, senhor Ettiene.

Etienne sorriu, satisfeito, mas Imer não terminou.

— Aceito a proposta de casamento, sim, mas com ressalvas. Não precisa nem alterar o contrato. Pode deixar aqui mesmo com o senhor.

Ela se virou para Ryan com frieza.

— O filho que vamos ter será por inseminação artificial. Não quero nenhum contato físico com ele. Durante esse um ano de contrato, ele deverá manter fidelidade absoluta. Caso tenha qualquer envolvimento amoroso ou sexual, perderá todas as ações que possui. E a criança ficará sob minha total responsabilidade, porque, apesar da idade, seu neto ainda se comporta como um adolescente mimado.

Ela cruzou os braços, implacável.

— Então agora, sim aceito, Só pelo seu desaforo, seu mimadinho mal educado.

O silêncio caiu como uma bomba no escritório. Ettiene soltou um leve riso e finalizou com sua cartada:

Etienne se virou para Imer com a firmeza de um general em missão:

— Aimée, amanhã você começa sua nova função. Secretária executiva do meu neto.

Ryan quase se engasgou com o próprio ar.

Etienne seguiu implacável:

— Você não volta mais para o setor de serviços gerais. Pode passar no RH ainda hoje. Seus documentos já estão lá. Só falta sua assinatura.

Aimée piscou, ainda absorvendo tudo.

— E a minha mãe? — indagou com um nó na garganta.

Ettiene sorriu com carinho genuíno nos olhos.

— Sua mãe vai entrar em licença médica. Vai continuar recebendo o salário integral, e não precisa se preocupar com nada. Já cuidei disso.

Ela assentiu com um sussurro quase inaudível:

— Obrigada, senhor Ettiene.

Mas ele não terminou.

— Ah, mais uma coisa. A partir de agora, seu salário se quadruplicou.

Os olhos de Ryan quase saltaram da órbita. Etienne apontou para ele com o indicador erguido como um aviso:

— E além de secretária, você terá outra função importantíssima.

Imer arqueou uma sobrancelha.

— Qual?

Etienne sorriu com um toque de sarcasmo nos lábios:

— Cão de guarda.

Ela piscou, confusa.

— Senhor?

— Isso mesmo. Você vai barrar qualquer uma das… amiguinhas do meu neto. Nenhuma entra no escritório. Aqui é ambiente de trabalho, não zona de desfile de interesseiras.

Imer apertou os lábios, tentando conter um sorriso irônico.

— Pode deixar, senhor. Eu entendi perfeitamente.

Etienne completou, satisfeito:

— Além de tudo… é meu cão de guarda. Fiel, firme, e com faro apurado pra falsidade.

— Eu tenho faro pra hipocrisia também, senhor — ela rebateu com elegância venenosa.

Ele sorriu largo:

— Por isso mesmo que você é perfeita.

Se virou para Ryan, com ares de triunfo:

— Que bom, minha filha, que você aceitou. Não podia ter escolhido melhor.

Ryan apenas recostou-se na cadeira, visivelmente irritado, observando a mulher que, em menos de meia hora, havia sido transformada de invisível e imbatível — e agora, era oficialmente sua sombra, ele estava no umbral.