AlbertoO motor do carro ainda rangia em suas engrenagens quentes quando Alberto desligou a ignição. O silêncio confortável entre ele e Samanta era preenchido apenas pelos estalidos do motor resfriando e o tilintar dos metais da chave sendo retirada do contato. O jantar com Vitório fora, no mínimo, estranho. Lucila, sempre efusiva e sorridente, parecia deslocada. Desavisada, como quem foi arrastada para uma celebração sem saber que seria homenageada. E, de fato, foi. Vitório, com sua pose de patriarca calculista, anunciou Samanta como a futura noiva de Alberto em meio ao brinde, com o mesmo tom solene de quem declarava guerra ou fechava um contrato vitalício.Lucila congelou. Samanta enrubesceu. E Alberto… apenas observou.De volta ao refúgio da casa, Samanta falava como quem precisava preencher o vazio incômodo da noite. Tagarelava sobre Lucila, sobre a forma como a nova amiga se mostrou simpática e leve. O fato de Lucila ser muda, não impediu a comunicação entre elas.Contou, entre
SamO relógio marcava três da madrugada, quando Samanta desistiu de lutar contra o sono que não vinha. Estava deitada ao lado de Alberto, o peito dele subindo e descendo lentamente, a respiração profunda denunciando o descanso que a ela era negado. O quarto estava silencioso, envolto na penumbra azulada da madrugada, e mesmo assim, o nó em sua garganta parecia mais barulhento do que qualquer tempestade.Ela se virou de lado, buscando abrigo no peito dele, mas os olhos, abertos e secos, fitavam o vazio. A mensagem ainda pulsava em sua memória como uma ferida recém-aberta. As imagens... meu Deus, as imagens. O vídeo... seu corpo completamente nu, exposto sob a iluminação baixa do quarto da Masmorra Diè. Era mais do que um registro íntimo, era uma ameaça. Ela se viu ali, despindo-se, em silêncio, toda a sua intimidade exposta, invadida de forma tão cruel, os olhos escurecidos pela persona que criou, Pérola Negra. A máscara de veludo. A lingerie provocante. A confiança encenada.Gabrie
Samanta sentia como se cada segundo a arrastasse para mais perto de um abismo invisível. A ansiedade era uma névoa espessa em sua mente, corroendo suas forças e o pouco de serenidade que restava. À medida que o relógio avançava, marcando sua aproximação com o horário do encontro marcado, sua respiração se tornava cada vez mais curta, vomitou três vezes, seu estômago um nó de angústia. Não conseguia concentrar-se em nada no trabalho, mal ouvia os colegas de equipe, e qualquer barulho mais alto a fez sobressaltar.Quando finalmente saiu do prédio, o calor abafado da noite gritou contra sua pele úmida. Chamou um táxi, ignorando a opção do carro de aplicativo. Precisava de algo rápido, direto, sem rastros digitais. Ao chegar diante dos portões de ferro da Masmorra Diè, o coração quase lhe saltou pela boca ao ver o carro preto de Gabriel estacionado ali, reluzente e ameaçador como ele próprio. O vidro abaixou com um zumbido suave, revelando o sorriso mascarado do homem.— Entra — disse e
Samanta Samanta Bastos é uma jovem publicitária de vinte e oito anos romântica e sonhadora, que desde criança sonhava com um casamento de princesa, uma família grande cercada de carinho; almoços de domingo recheados de risadas e feriados barulhentos e alegres. No entanto, o silêncio que a recebia nesse momento ao entrar em casa, era a sua triste realidade. Sam depositou as chaves do carro no aparador da sala e rumou para a cozinha em busca de uma garrafa de vinho. No caminho suas roupas sujas de terra ficaram largadas no chão. O barulho da rolha saindo do gargalo da garrafa se propagou pela cozinha silenciosa. Ela levou a garrafa a boca e se sentou no chão somente de calcinha e sutiã. Seus pensamentos bagunçados se alinharam em uma única pergunta. Como foi que chegou a esse ponto? A lembrança ainda queimava dentro dela, tão vívida e cruel como se estivesse acontecendo novamente. Flashback on Com o rosto banhado de lágrimas, Samanta viu Alberto Darius, o homem que durant
AlbertoOs olhos glaciais acompanharam as pessoas se dispersando. Samanta foi embora totalmente descompensada depois do que viu. Ela não devia ter feito aquilo.Seus punhos cerrados eram a prova de que seu auto controle estava por um fio. O esforço que teve que fazer para não agarrar aquela mulher e levá-la para o seu apartamento para lhe ensinar uma boa lição, era simplesmente sobre-humano.Alberto voltou para o anexo, e fechou a porta com uma pancada que reverberou por toda a estrutura de pedra.- Você disse que ela não viria aqui. – Catarina resmungou, virando a cabeça para o lado. – Por que ela tinha que aparecer?!- Isso também é culpa sua! INFERNO! – com movimentos rápidos e ágeis ele a desamarrou, libertando a mulher da plataforma em forma de X.- Fique aqui, o Ticiano deve estar chegando. – reuniu seus pertences, rumando de volta para a porta.- Alberto... eu juro que sinto muito... - Catarina disse baixinho.- Nunca mais! Você entendeu?! – ele advertiu, com um olhar frio.Sai
Estava na hora de acertar as contas Ícaro.Alberto dirigia como um louco, o motor do carro rugindo como sua própria fúria. O sangue pulsava em suas têmporas, a respiração acelerada e o gosto metálico da raiva na boca. Não havia tempo para pensar, para ponderar. Ícaro, o seu irmão precisava pagar pelo que fez.Ele subiu sem avisar, marchando como um predador para o apartamento de Vitório, seu irmão mais velho. A governanta sequer teve tempo de anunciá-lo antes que ele arrombasse a porta do escritório com um estrondo.Vitório e Ícaro se voltaram abruptamente, interrompendo a análise dos novos projetos para Dallas. O queixo de Ícaro sequer teve tempo de registrar a surpresa antes de receber o primeiro soco. O estalo seco do impacto ecoou pela sala, seguido de um grunhido de dor.Ícaro cambaleou, mas reagiu rápido. Com um golpe certeiro no estômago, fez Alberto dobrar o corpo para frente. Mas a fúria de Alberto era descomunal. Ele se lançou sobre o irmão, socando-lhe o rosto, costelas, om
SamantaQuando o despertador tocou de manhã, ela praguejou imprecações e o desligou. Suas pálpebras mal podiam se abrir, o peso da ressaca e da noite mal dormida era uma merda.Um cochilo de mais cinco minutos causou uma situação pior ainda. Sam caiu da cama em cima do vidro quebrado da garrafa de vinho.- Aiiii merda! – gritou, quando sentiu a pele ser cortada pelo vidro.Se levantou e correu para o banheiro quando viu o sangue pingar no chão. Pegou o kit de primeiros socorros e analisou seu rosto.Um fragmento estava cravado em sua testa, e o restante cortou os dois antebraços e pulso. Não era nada grave, então decidiu limpar e evitar uma visita desnecessária ao hospital.Tomou um banho rápido e verificou as horas. Para variar, estava em cima da hora. Vestiu um tubinho preto e um blazer branco, calçou os saltos agulha caramelo e pegou a bolsa de couro que sua prima Amélia lhe deu de presente de aniversário.A maquiagem poderia ser feita no banheiro da agencia, ela só precisava chega
“Eu nunca vou entender esse cretino.”, pensou surpresa, quando Alberto estacionou na área de embarque e desembarque da Cosmus, a agencia em que ela trabalhava. - Por que fez aquilo com o meu carro? – ela perguntou levando a mão a maçaneta da porta. - O que aconteceu com seus braços e o seu rosto? – ele rebateu, olhando fixamente para frente. Sam pensou em inventar uma mentira. Já era patético demais beber até cair no sono por causa de um chifre, agora cair em cima da garrafa, aí seria atestar sua idiotice. Ela puxou a maçaneta, decidida a não responder. Saltou do carro sem dizer mais nada e praticamente correu para dentro. Infelizmente deu de cara com Daniel Benevides, o sócio majoritário da Cosmus e seu chefe. Um homem que odiava atrasos e pessoas mal arrumadas. Tudo o que ela era hoje. - Pensei que não fosse dar o ar de sua graça hoje Samanta. – o homem alto e corpulento disse, ele avaliou sua figura lentamente.