A segunda-feira amanheceu envolta por um frio fino e persistente. Dentro da mansão, nada parecia reagir ao tempo: o relógio do corredor marcava as horas com a mesma indiferença de sempre, e o perfume das flores frescas, trocadas diariamente, misturava-se ao odor distante de cera e metal.
Bianca acordou antes do sol, sem saber por quê. Levantou-se devagar, caminhando até a janela. Lá fora, a névoa se dissolvia sobre os jardins, e as fontes artificiais lançavam jatos de água tão perfeitamente sincronizados que chegavam a irritá-la. Tudo naquela casa parecia treinado para não errar. Nem a beleza era natural.
Demorou alguns minutos para se vestir. Escolheu o uniforme com cuidado, não por vaidade, mas por hábito — um gesto que a fazia sentir algum controle sobre a própria vida.
Na cozinha, as criadas se moviam em silêncio. A mesa do café, montada com rigor, exibia frutas cortadas, pães idênticos, geleias em pequenas taças de cristal. Bianca sentou-se diante do prato e comiu sem muita vonta