O sol mal começava a se erguer sobre Toronto quando Alberto deixou o quarto de hóspedes. O aposento era amplo, decorado com sobriedade, mas não carregava nada que pudesse denunciá-lo como lar. Era o espaço que ele aceitava ocupar: provisório, limpo, sem sinais de permanência. Gostava da neutralidade, pois nela não havia engano.
Desceu os degraus em silêncio, com a gravata já impecavelmente ajustada. Na copa, a mesa estava posta com café preto, pão escuro e frutas cortadas. Alberto comeu rápido, em silêncio, olhando para fora: o jardim moldado em linhas perfeitas, as roseiras alinhadas. Tudo naquela casa parecia pensado para impressionar. E, em parte, era.
— Você acorda antes até dos jardineiros — comentou Helena, surgindo no vão da porta. O robe de seda verde caía sobre a pele clara como um véu líquido. O perfume discreto se espalhou no ar, delicado, mas com a mesma força de uma assinatura.
Alberto apenas assentiu.
— O dia exige.
Ela se serviu de café, observando-o. Havia em Helena um