O inverno avançava sobre Toronto, cobrindo as manhãs de uma luz fria e metálica. Bianca já se acostumara à rotina da escola: os corredores amplos, a biblioteca silenciosa, o pátio onde costumava se sentar com Maya. Não que fosse parte de um grupo — ainda não era —, mas já havia nela a sensação de pertencimento.
Maya a esperava quase todos os recreios. Tinha sempre uma observação divertida, um comentário inesperado, algo que quebrava o peso das horas. Nesse dia, largou os livros no banco e suspirou fundo.
— Ontem estudei até tarde — disse, ajeitando o aparelho auditivo com naturalidade. — Sonhei que os números me perseguiam pelo corredor.
Bianca riu.
— Se fosse verdade, eu também estaria morta.
Maya abriu o lanche e ofereceu um pedaço de maçã.
— Não sei como você aguenta tudo isso: outra cidade, outra vida… Eu já teria chorado todos os dias.
Bianca hesitou. As lembranças da despedida na estação ainda lhe vinham à mente. O sorriso de Rafael, a concha entregue às pressas. Apertou os livr