(POV Dorian)
O vento do amanhecer tinha cheiro de cinzas antigas.
Cada vez que respiro fundo, sinto que não carrego só o ar da manhã, mas também o pó de tudo o que deixei para trás. Eles me chamam de Alfa. Mas eu sei: não nasci para isso.
Nunca quis o trono. Nunca desejei o peso que vem com essa palavra. No Norte, aprendi que ser Alfa não era guiar — era esmagar. O lobo que derrubei era carrasco, dono de vidas e mortes. Quando meu sangue se misturou ao dele na neve, não pensei em sucessão. Pensei em sobreviver. Era ele ou eu. E sobrevivi.
Mas o destino não pergunta. O destino empurra.
Quando olhei para trás naquela noite, havia olhos demais presos nos meus passos. Homens e mulheres sem para onde ir. Jovens que nunca tinham conhecido liberdade. Crianças que choravam sem entender por que o silêncio do tirano era mais aterrorizante do que o rugido.
Eles me seguiram.
Não porque pedi. Não porque quis.
Seguiram porque fui o único a levantar a mão contra o chicote.
E assim nasceu o que hoje