O fim da tarde se aproximava com uma lentidão quase deliberada, como se o tempo tivesse decidido observar antes de seguir adiante. A luz já não entrava direta pelas janelas; espalhava-se em tons amarelados, desenhando sombras longas no chão da sala. Ela percebeu isso apenas quando se levantou do sofá, sentindo o corpo levemente pesado, como depois de um pensamento prolongado.
Foi até a janela e ficou ali, apoiada no parapeito, olhando para fora sem foco definido. O mundo seguia em movimento, mas algo dentro dela permanecia suspenso, atento. Não era inquietação. Era uma espécie de vigília silenciosa.
Havia dias assim: dias em que nada acontecia de forma explícita, mas tudo parecia se reorganizar por dentro. Ela aprendera a não subestimar esses momentos. Eram eles que, mais tarde, explicavam mudanças que pareciam repentinas aos olhos de quem não acompanhara o processo.
Pensou novamente na história que vinha sendo construída — não apenas no papel, mas na vida. Os pais, as escolhas, os si