A manhã nasceu diferente, não pela luz — que ainda entrava discreta, filtrada pelas nuvens — mas pelo silêncio. Não era ausência de som; era uma quietude organizada, como se cada ruído tivesse encontrado seu lugar correto. Ela percebeu isso ao acordar, antes mesmo de abrir os olhos. O corpo estava desperto, mas a mente não se apressava.
Ficou alguns minutos imóvel, respirando fundo, sentindo o peso exato do próprio corpo sobre o colchão. Havia algo novo ali: uma sensação de continuidade. Como se o dia não fosse uma ruptura da noite, mas sua extensão natural.
Levantou-se devagar e foi até a cozinha. Preparou café sem pensar muito, guiada mais pelo hábito do que pela necessidade. Enquanto a água esquentava, apoiou as mãos na bancada e deixou o olhar se perder em um ponto indefinido da parede. Era nesses momentos que as ideias mais importantes surgiam — não como frases prontas, mas como pressentimentos.
Lembrou-se novamente do caminho percorrido até ali. Não apenas dos acontecimentos, ma