Os dias que seguiram não tiveram grandes acontecimentos. E, ainda assim, foram intensos. Havia uma mudança sutil no ar, como depois de uma tempestade que não derruba casas, mas altera o cheiro da terra. Tudo parecia igual — as ruas, os horários, as rotinas — porém algo essencial tinha se deslocado por dentro.
Ela percebeu isso logo na primeira manhã após aquele encontro. Acordou com o corpo leve e, ao mesmo tempo, estranho. Não era felicidade. Também não era tristeza. Era um tipo novo de silêncio interno, menos caótico, menos urgente. Um silêncio que não pedia respostas imediatas.
Preparou o café com calma, abriu as janelas, deixou o sol entrar sem pressa. Pela primeira vez em muito tempo, não sentiu vontade de pegar o celular assim que acordou. Não porque não houvesse mensagens, mas porque não precisava delas para validar o próprio dia.
Enquanto a água fervia, apoiou-se na pia e deixou a mente vagar. Pensou em quantas versões de si mesma havia sido nos últimos anos. A que esperava. A