O dia amanheceu nublado, com um céu baixo e pesado, como se o mundo estivesse em suspensão. Não chovia, mas o ar carregava a promessa de algo prestes a cair. Ela percebeu isso assim que abriu a janela. O vento vinha diferente — não agressivo, apenas insistente, como uma pergunta que se repete até ser respondida.
Havia semanas que sua rotina mudara. Não drasticamente, não de forma visível para quem olhasse de fora. Ainda acordava cedo, ainda cumpria horários, ainda sorria quando necessário. Mas por dentro, tudo era reorganização. Cada gesto simples agora tinha intenção. Cada escolha, mesmo pequena, parecia uma afirmação silenciosa de quem ela estava se tornando.
Vestiu-se sem pressa, escolheu roupas confortáveis, como se o corpo também merecesse descanso depois de tanto tempo em alerta. Enquanto arrumava o cabelo, pensou em como havia passado anos tentando decifrar o outro, quando mal se escutava. A constatação não doía mais. Era quase libertadora.
Saiu de casa e decidiu ir a pé novame