O dia amanheceu com uma luz diferente, como se o mundo tivesse decidido respirar mais devagar. Não era uma manhã barulhenta, nem grandiosa — era silenciosa, densa, carregada de algo que ninguém dizia em voz alta, mas todos sentiam. Havia decisões sendo gestadas naquele silêncio, escolhas que não pediam anúncio, apenas coragem.
Ela acordou antes do despertador. O corpo ainda estava cansado, mas a mente já caminhava longe, percorrendo cenas que ainda não tinham acontecido. Ficou alguns minutos olhando o teto, acompanhando o desenho irregular das sombras, como se ali estivesse escondida alguma resposta. Não estava ansiosa. Era outra coisa. Uma espécie de lucidez dolorida, aquela que chega quando a gente finalmente entende que não dá mais para fingir.
Levantou devagar, atravessou o quarto com passos leves e abriu a janela. O ar frio da manhã tocou seu rosto e, por um instante, ela fechou os olhos. Precisava se lembrar de quem era antes de tudo aquilo. Antes das concessões, das esperas lon