— Boa noite, Meireles — diz ele, a voz grave arrastando uma ironia gélida que arranha o silêncio da sala.
Sentado no sofá com os braços cruzados sobre o peito largo coberto por uma camisa canelada que delineia os músculos como uma segunda pele. Uma das sobrancelhas está arqueada e os olhos cravados nela como se tivesse acusando-a de ter feito algo muito errado. A luz acima da sua cabeça projeta sombras duras sobre o maxilar rígido, as pernas afastadas.
O susto a golpeia como um balde de água fria, fazendo-a dá um passo para trás, os olhos arregalando por um segundo antes de disfarçar o susto com um arquear de sobrancelha. O coração tropeça no peito. Havia esquecido completamente que ele dorme ali.
Porra! — o palavrão ecoa em sua mente como um grito abafado, odiando a sensação que os olhos dele causam nela. Aquela tensão densa, magnética, ilógica. Irracional.
O silêncio entre eles é mais ensurdecedor do que qualquer grito. Celina engole em seco, sentindo todos os pelos do corpo se eriça