Poderão dois seres extremamente diferentes aprender a aceitar-se, a amar-se e a ser felizes um com o outro? O que acontece quando as suas vidas se entrelaçam de uma forma invulgar, sendo um deles o Alfa Supremo de todos os lobisomens do mundo e o outro um humano, desconhecendo a sua verdadeira natureza, ignorando o destino que os espera? O que acontece quando descobrem que tudo o que pensavam saber é falso, transformando-os em seres muito diferentes do que tinham imaginado?
Ler maisA escuridão era absoluta, uma densa negritude que parecia devorar até mesmo o próprio passar do tempo. Isis ignorava que, nesta ilha, nesta época do ano, os dias eram curtos. Não tinha previsto que o autocarro do hotel a deixaria sem táxis à vista, e muito menos que aceitaria apanhar uma boleia com um estranho de regresso ao hotel, apenas porque o homem dizia que trabalhava ali.
—O que estava a pensar?— murmurou para si mesma. Entretanto, Isis observava como o estranho conduzia a uma velocidade vertiginosa, mergulhando mais profundamente na floresta e num manto envolvente de escuridão. A estrada asfaltada deu lugar a um caminho de terra, e apenas os faróis do carro conseguiam atravessar a noite omnipresente. Quanto mais avançavam, mais se adentravam na inóspita natureza selvagem, deixando para trás qualquer vestígio de civilização. Ao seu lado, o estranho ao volante tinha-se mergulhado num silêncio sepulcral, com os olhos fixos no caminho à sua frente enquanto o veículo cortava o ar a uma velocidade formidável. —Como é que aceitei acompanhar um homem desconhecido?— Recriminou-se mentalmente, sentindo o pânico começar a apoderar-se dela. Um clarão iluminou brevemente o olhar de Jacking direccionado para ela e, por um instante, os seus olhos pareceram de uma cor dourada brilhante. —Viste isso? Os seus olhos eram dourados...— murmurou uma voz na sua cabeça, essa voz que lhe falava desde criança como se albergasse outro ser no seu interior. —Estás a ver coisas—, repreendeu-se a si mesma, esforçando-se para reprimir a sua voz interior com uma lógica forçada. —Mas sabes quem ele realmente é?— insistiu a voz, mais inquisitiva desta vez. —Trabalha no hotel!— Lembrou-se a si mesma, agarrando-se desesperadamente a um fio de racionalidade. —Ingénua! Não vês para onde te leva? Pode ser um rapto—, continuou a voz interior incansavelmente, evocando cenários sombrios na sua mente. —Já chega!— Gritou mentalmente, desesperada por restaurar a ordem no caos dos seus pensamentos. —Deixa-me pensar! A tensão entre a necessidade de manter a compostura e o medo irracional que ameaçava engoli-la era uma batalha com a qual Isis estava muito familiarizada. Mas desta vez, o que estava em jogo parecia letal. Jacking conduzia com determinação inquebrantável, a sua mente completamente absorta em conceber estratégias para enfrentar os lobos que tinham ousado desafiar a sua alcateia. O seu diálogo interno com o seu lobo, Mat, era uma voragem de tácticas e reprimendas. —Mat, precisamos de um plano sólido—, começou Jacking, conversando mentalmente com o seu lobo, sentindo a tensão dele ressoar no seu peito. —Um plano? O primeiro devia ter sido não expor a nossa Luna a este perigo!— A voz de Mat ressoou na sua cabeça, carregada de uma atitude protectora e desafiadora. —Eu sei, Mat, mas não havia escolha. Deixá-la para trás não era uma opção—, defendeu-se Jacking, apertando mais o volante. —Então mantém-na a salvo dentro do carro. Não permitirei que ela coloque um pé nesta floresta—, ordenou Mat, o seu tom não admitia discussão. —Mas se a deixarmos aqui e formos atrás dos raptores, ela podia... —Não!— O rosnar interior foi tão potente que Jacking sentiu que os seus olhos ardiam sob a ameaça de transformação. —Não abandonaremos a nossa Luna! Jacking lançou um olhar fugaz para Isis e captou a sua expressão de assombro. Num instante, desviou o olhar, sabendo que ela tinha visto a cor dourada de Mat nos seus olhos. Podia sentir o medo de Isis como se fosse seu, uma vibração tangível na atmosfera carregada do carro. Entretanto, o veículo continuava a adentrar-se nas sombras de um território que só ele e a sua alcateia conheciam, e cada metro percorrido marcava um passo mais para o incerto. Jacking, sentindo a urgência de Mat, lutou para manter a compostura. A alcateia comunicava-se através de uivos, uma sinfonia selvagem que parecia ressoar na noite. A tensão dentro do carro era tangível, um contraste marcado com a tranquilidade da floresta que os rodeava. Sem desviar os olhos do caminho escuro e sinuoso que conduzia ao mais profundo coração da floresta, tentou concentrar-se nas vozes dos seus irmãos lobo. Mas a voz trémula de Isis tirou-o da sua concentração. —Não sabia que havia lobos por aqui—, a sua pergunta foi um mero murmúrio na escuridão. —Sim, há—, respondeu Jacking, o seu tom mais duro do que pretendia. A preocupação pela sua alcateia e por Isis começava a colidir na sua mente. Isis ofegou quando ouviu outro uivo perto, e Jacking sentiu que o medo a envolvia como uma segunda pele. Queria protegê-la, mas também sabia que tinha responsabilidades com a sua alcateia. —Não te preocupes, proteger-te-ei—, disse, embora a sua voz soasse mais como uma tentativa de se convencer a si mesmo do que a ela. Isis começou a contar o seu passado e a sua história desenrolou-se perante Jacking como um filme trágico. A retrospectiva do seu trauma infantil envolvendo lobos permitiu a Jacking perceber o medo profundamente enraizado; compreendeu o pânico visceral que agora a paralisava. No carro, o silêncio foi quebrado pelo som da respiração entrecortada de Isis. As suas palavras brotaram num murmúrio apressado, uma cascata de memórias que fluíam sem controlo. —Tenho muito medo—, confessou Isis com a voz trémula. —Uma vez, quando vivia com os meus pais em África, os lobos atacaram o nosso acampamento e, desde então, aterroriza-me ouvir os seus uivos. Jacking ouviu-a, cada palavra tocava o seu coração de lobo. A necessidade de protegê-la intensificava-se com cada detalhe que ela revelava.Retrospectiva:
Isis continuou a sua história, levando Jacking àquele momento que tinha marcado de forma indelével a sua vida.
Esse ano, os meus pais não pararam de viajar de ida e volta, sempre comigo ao lado deles. Eu só tinha cinco anos, mas estava encantada por poder acompanhá-los. Foi toda uma aventura; descobrir tesouros do passado e viver rodeada pela natureza em vez de muros de betão. Tínhamos chegado a uma pequena aldeia, encravada numa vegetação exuberante. Os meus pais decidiram acampar perto do local da escavação. Éramos umas cinquenta pessoas e eu era a única criança e explorava sempre a selva que nos rodeava. À noite traziam comida e guardavam-na na cozinha. Estava a dormir tranquilamente na cabana dos meus pais quando acordei com uma dor aguda no tornozelo e as pancadas da minha cabeça ao bater no chão. Um lobo enorme arrastava-me por um pé; podia sentir as suas presas a enterrarem-se dolorosamente na minha perna.Ast sente seu coração afundar. A intensidade da situação é avassaladora, e ela sabe que devem conseguir acalmar Isis antes que tudo saia de controle. A luta entre sua raiva e seu amor por Jacking pode ter consequências devastadoras. Isis continuava liberando sua fúria contra Jacking, lançando descargas de energia que o jogavam de um lado para o outro como um boneco quebrado. O Alfa não se defendia; apenas a olhava com amor, esperando que ela descarregasse toda sua ira sobre ele e não machucasse mais ninguém. Mas isso só intensificava a raiva de Isis. Uma e outra vez, ele a atirava contra a parede, o impacto ressoando na sala. Apesar de que suas feridas eram evidentes e sua forma humana estava prestes a colapsar, Isis não se importava. Era um turbilhão de emoções descontroladas. De repente, notou Mat tomando controle e se transformando em lobo, mas n&
Ast tentou se comunicar mentalmente com seu pai, mas Isis cortou essa conexão, deixando que sua ira aumentasse a passos largos. — Lembre-se do que prometeu ao Alfa Supremo, Isis! — Tentou detê-la ao ver como ela se dirigia decidida para o quarto de Jacking —. Você disse que sempre esperaria que ele te explicasse antes de tirar conclusões! — Não me importa o que prometi! — gritou Isis, deixando escapar uma explosão de raiva —. Ele tem zombado de mim! Ele me usou! Ele me manipulou! — Não, Isis, não é assim! — negou desesperada Ast, enquanto forçava novamente a conexão com seu pai, que finalmente respondeu, mas estava a muita distância —. Você não pode agir assim! — Ast, cale-se! Não quero falar com você! Você sabia e não me contou! — A traiçã
Ast rosnou furiosa dentro de Isis, fazendo com que ela liberasse eletricidade de seu cabelo. Com um profundo suspiro, controlou os imensos poderes que lhe foram concedidos por ser a Lua Suprema e tentou falar com calma:— Isis, se eu não tivesse prometido a Mat que não te contaria, não estaríamos nessa conversa! Você é frustrante! — exclamou, a impaciência transbordando de sua voz.Essa última frase de sua loba chamou a atenção de Isis, fazendo-a sair de debaixo da água para ouvir melhor.— O que você prometeu ao meu lobo? — perguntou intrigada, o nervosismo surgindo em seu peito.Ast sentiu um aperto em seu ser diante da confusão de sua humana. Com a força de sua energia, uma revelação brilhava no ar, uma verdade que poderia mudar tudo.— Não vou quebrar minha promessa! — disse Ast com firmeza, mas depois su
Isis havia saído correndo e chegou ao seu quarto, ainda sem conseguir acreditar no que acabara de acontecer. Sentia-se culpada e completamente confusa! Como era possível sentir as mesmas coisas, com a mesma intensidade, tanto por Jacking quanto por seu Alfa? Como ia decidir por um deles?De repente, um forte impulso de energia a abalou. Seu corpo se elevou, envolto em um grande círculo de energia branca. Podia sentir como seus poderes cresciam de maneira extraordinária, mas não conseguia entender. Caiu de joelhos, com a cabeça inclinada, sentindo claramente uma mão quente em sua cabeça. Outra corrente de energia a envolvia, como se um grande laço de união com seu Alfa estivesse se formando.Ela estava mais do que confusa! Por que isso estava acontecendo? Acabava de trair seu Alfa e ele deveria ter sentido! Por isso ela estava enviando tanta energia. Ele deveria pensar que algo estava errado devido
Assim passaram-se os dias seguintes. Era noite de lua cheia, seu último dia deste mês para consumar sua união como humanos. Sentiu Isis entrar em seu quarto. Ela estava com febre e tremia de frio. Ela o cobriu e colocou compressas na testa. Ele abriu os olhos e a olhou desesperadamente, não querendo machucá-la. — Isis, o que você está fazendo aqui? Você vai pegar um resfriado! — disse-lhe, desejando que ela fosse embora, pois seu cheiro estava o matando. Não sabia se conseguiria resistir aos seus instintos de sobrevivência e fazê-la sua. — Não vou sair daqui, se é isso que você está pedindo! — respondeu Isis. Ele não discutiu; estava fraco demais. Fechou os olhos novamente e adormeceu. Sentiu como ela se deitava ao seu lado e o abraçava, transmitindo-lhe energia. Continuou dormindo, e suas forças come&cced
Jacking estava preocupado com sua Lua; sentia-a imersa em um mar de confusões. Ele se transformou em Alfa Supremo e foi até o quarto dela. Bateu na porta e sentiu como ela se assustava. Liberou seu cheiro de Alfa, e ela abriu a porta rapidamente. Olhou-a com amor e notou que ela se sentia culpada. Ela o abraçou e o beijou desesperadamente. — O que há com você, minha Lua? — perguntou ele, esperando que ela fosse sincera e confessasse tudo. — Meu Alfa, eu te amo! — foi a resposta que recebeu de Isis, que não o olhava nos olhos. — Eu sei, minha Lua. Eu também te amo muito. Você pode me dizer o que está acontecendo? — ele insistiu, apesar de seu lobo protestar em sua cabeça para que não o fizesse. — Eu não posso, meu Alfa! Prometo que vou resolver isso primeiro e depois te conto! — Se negou Isis, fazendo com que
Último capítulo