CAPÍTULO 153
Quando a mentira ganha jaleco
CAIO MOREAU BASTIEN
Fiquei um tempo encarando o vazio depois que o fisio saiu. A TV de Paris ainda piscava num canto, um frame congelado do rosto da Alinna, os olhos em brasa, a boca firme dizendo “o bebê era dele”. Eu fechei os olhos para guardar aquilo e, quando abri, só restava a parede branca, o zumbido do ar e a certeza latejando: alguém tinha mexido no meu destino de propósito.
Toquei o botão de chamada. A mesma enfermeira que viu meu chão ensanguentado entrou com o cuidado de quem pisa em cacos.
— Preciso do meu prontuário, das últimas ordens médicas e do registro de farmácia — falei, seco.
Ela hesitou.
— Senhor Moreau…
— Eu não estou pedindo. Sou coproprietário da M&B. Tragam. Agora.
Quinze minutos depois, a pasta estava sobre minhas pernas. Comecei a virar páginas como quem procura uma faca. Data, horário, assinatura. Ali: “infiltração de reforço – sessão prévia – Dr. N. Versari.” Lote do frasco: ilegível, um rabisco sujo. “Observaçã