Inicio / Romance / A Herança do CEO / A MULHER QUE NUNCA FOI MINHA
A MULHER QUE NUNCA FOI MINHA

📄 Capítulo 2

Eu a vi, a amei, ela foi dele. E os odeio por isso.

A porta bateu com tanta força atrás de mim que o barulho pareceu ecoar por dentro do peito. A chuva ainda escorria pelo meu cabelo, pela jaqueta, pela alma. Eu não sabia o que doía mais: o fato de Eduard ainda controlar tudo mesmo morto, ou o fato de vê-la ali, com os olhos molhados, a toalha colada no corpo, e ainda assim... intocável.

Andei sem rumo por alguns quarteirões. Só queria ar. Ar que não tivesse o cheiro dela, da casa dela, do perfume leve e maldito que ela usava desde sempre.

Ela.

Alinna.

Fechei os olhos, e antes que o mundo me puxasse de volta para a realidade, a memória me afogou como sempre fazia.

---

Nove anos antes.

Ela estava sentada na escada de pedra do jardim, os cabelos dançando com o vento e os olhos perdidos em algum lugar além da vista.

Me aproximei devagar e me sentei ao lado, com os cotovelos apoiados nos joelhos.

— Você está bem, Ali?

Ela demorou pra responder. Depois virou o rosto devagar, com aquele meio sorriso que ela usava como defesa.

— Estou... como sempre. Sobrevivendo. E você?

Soltei o ar com um riso seco.

— Eu também. Hoje foi mais uma daquelas conversas tensas. Papai tentando empurrar a empresa pra mim e pro Eduard. Como se eu combinasse com isso. Terno e gravata. Escritório. Sorrisos falsos.

Ela riu. E aquela risada... merda, ela me desmontava.

— Realmente, Caio... não te vejo de terno. Um CEO tatuado de jaqueta de couro? Não combina.

— Vamos fugir?

Ela virou o rosto, surpresa.

— Fugir?

— É. Pra onde você quiser. Um lugar quente. Com praia. E paz. Sem esses nossos sobrenomes. Sem obrigações. Só eu e você.

— Hum... — Ela fechou os olhos por um instante. — Vamos sonhar, então. Que tal Maldivas? Um bangalô de madeira sobre o mar, com cachoeira por perto, frutas frescas, sol... e muito amor.

— Maldivas... — repeti, como se o nome dela tivesse se fundido ao nome do paraíso. — Você seria feliz lá?

Ela sorriu. Aquele sorriso melancólico de quem sabia que não podia ter o que queria.

— Seria. Por uns dias. Mas depois... — suspirou — essa é minha realidade, Caio.

Lá de dentro, uma voz gritou:

— Alinnaaa!

Era a mãe dela.

Ela se levantou num pulo, enxugando as mãos na saia.

— Já vou!

Virou-se pra mim. Os olhos eram um pedido silencioso de perdão por algo que ela nem tinha feito.

— Obrigada por me fazer sonhar... e... feliz aniversário, Caio.

Eu não pensei.

Apenas a puxei e a beijei.

Foi rápido, urgente, cheio de um sentimento que me engasgava há anos.

Eu depositei naquele beijo tudo que eu sinto e

Tudo que ela nunca aceitou receber.

— Eu não vou desistir, Ali.

Ela não respondeu. Apenas correu.

E naquele dia, eu soube: o que eu sentia era amor. E iria lutar por ela.

---

Presente.

Voltei pra casa com o corpo molhado e os pés sujos de raiva.

A casa estava escura. Silenciosa.

Mas ja tem a porra o do cheiro dela em cada canto.

Mas naquele momento, eu precisava de ar. E de álcool.

Fui até a cozinha. Peguei uma garrafa. Servi um copo. Tremi. Tropecei. O copo caiu no chão e se espatifou.

Os cacos estalaram sob meus pés. O vidro parecia ecoar o som da minha cabeça rachando.

Ela apareceu. De camisola. O cabelo solto. O olhar assustado.

— Você tá bem?

Não respondi. Só encarei.

— Tá bêbado?

Ela se aproximou. A luz da geladeira iluminou metade do rosto dela.

E por um segundo, pensei em encostar. Em falar. Em gritar.

Mas em vez disso, cuspi o veneno que me corroía.

— Você ainda dorme no quarto com as coisas dele? Com o cheiro dele? Ou já cansou de carregar esse nome que nunca foi seu?

O rosto dela endureceu. Ela recuou um passo.

— Você não tem o direito...

— Eu não tenho o quê? — avancei. — Eu só perdi tudo. Ele tirou de mim a única coisa que eu queria. A única.

— Eu não era sua.

— Mas era minha ideia. Meu sonho. E ele... ele só roubava o que brilhava nos olhos dos outros. Até você.

— Você acha que foi fácil pra mim?

— Eu acho que você se acostumou a ser a esposa perfeita do herdeiro perfeito.

— E você se acostumou a odiar tudo que não conseguiu ser.

Ficamos ali. Frente a frente. Corações acelerado. Orgulhos em frangalhos.

Por um segundo, nossas bocas estavam perto demais.

Mas o silêncio venceu.

Ela subiu as escadas sem olhar pra trás, e eu fiquei ali, com o gosto amargo da minha própria crueldade. A frase ainda ecoava na cozinha como um tapa dado com raiva, mas era em mim que doía. Eu queria que ela me visse. Que percebesse que eu estava tentando alcançar alguma parte dela que ainda respirava. Mas em vez disso, só afastei mais. Era sempre assim. Ao invés de conquistá-la, eu feri. Ao invés de tocar, eu destruí. E no fundo, eu sabia: cada vez que abria a boca, eu enterrava mais a única chance que tive de tê-la.

Ele nunca a amou. Só quis provar que podia ter tudo. E conseguiu. Até ela.

Ele tirou de mim não só a mulher que amei.

Matou meus sonhos.

E me mergulhou num inferno sem fim.

Um inferno que até hoje me queima por dentro.

Sigue leyendo este libro gratis
Escanea el código para descargar la APP
Explora y lee buenas novelas sin costo
Miles de novelas gratis en BueNovela. ¡Descarga y lee en cualquier momento!
Lee libros gratis en la app
Escanea el código para leer en la APP