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A ESPOSA QUE NUNCA TEVE ESCOLHA

📄 Capítulo 3

Eu me vesti de perfeição, mas nunca parei de sangrar por dentro.

Alinna Moreau

Tudo que me pediam era compostura.

Tudo que me exigiam era elegância.

Mas ninguém sabia o quanto doía ser ela.

A mulher de luto. A viúva bem vestida. A esposa perfeita do homem que nunca amei.

Os saltos batiam no mármore da sala de reuniões como um lembrete: estou aqui. Ainda sou a senhora Moreau. Mesmo que os olhares digam o contrário.

— Senhora Alinna… — começou um dos conselheiros, ajeitando o paletó como se estivesse prestes a anunciar a minha sentença. — Apreciamos sua presença. Mas talvez fosse mais adequado que… se concentrasse em preservar o nome da família. Discretamente.

O silêncio que se seguiu foi mais violento do que qualquer grito.

— Pode repetir? — perguntei, com a voz baixa, mas firme.

Ele sorriu, como quem se desculpa antes de atirar.

— O que quero dizer é que talvez… a senhora devesse se prender ao que sabe. À viúvez. À sua beleza. Isso seria... mais confortável para todos.

Uma onda de calor subiu pelo meu peito. A raiva queimou sob minha pele. Mas eu sorri. Porque é isso que esperam de nós, não é? Um sorriso controlado. Uma reação elegante. Uma dor discreta.

Me levantei, sem dizer uma palavra.

Mas quando saí da sala, meu corpo tremia.

E foi então que o vi.

Encostado na parede do corredor, os braços cruzados, o rosto fechado.

Caio.

— Você estava ouvindo?

Ele me encarou.

— Não vim por você. Vim porque essa empresa era dele. E agora… é minha.

E porque ninguém vai tirar ela de mim.

Engoli seco.

— Eu não preciso que você me defenda.

— Não estou defendendo você. Estou protegendo o que é meu.

Os olhos dele brilharam. Por raiva. Por mágoa. Por algo que nem ele sabia mais nomear.

Mas por que ele estava ali, então?

E por que eu ainda sentia o perfume dele mesmo depois que ele se afastava?

---

Flashback – 9 anos atrás

A caixa de madeira sobre a cama exalava cheiro de couro novo. Dentro, a aliança cintilava sob a luz amarelada do quarto.

A promessa não era de amor. Era de poder.

— Quer se casar comigo? — ele perguntou, ajeitando os punhos da camisa branca.

— Eduard… — minha voz falhou. — Eu não te amo.

— Eu sei, Alinna. Mas você acha que meu irmão pode fazer o quê por você?

— Ele me ama. E eu...

— Amor e sexo, Alinna, são romantismos de livros baratos. O mundo real exige estabilidade. Você vive de favor na casa de um vizinho. Sem nome. Sem nada. Eu posso te dar tudo. E talvez… com o tempo, até amor.

— Se eu aceitar… eu vou fazê-lo sofrer. E vou sofrer também.

Ele se aproximou. Frio. Seguro. Perigoso.

— Nada que o tempo não cure. Aliás… comece com isso.

Colocou a aliança no meu dedo com firmeza. Como quem sela um contrato, não um sentimento.

— Termine com meu irmão. Seja lá o que existe entre vocês… amanhã você vai morar comigo. E isso não é um pedido. Entendeu?

Eu quis gritar. Mas meu grito morreu antes mesmo de nascer.

Naquela noite, me tornei Alinna Moreau.

A esposa de um império.

A prisioneira de um nome.

A mulher que nunca teve escolha.

---

Voltei ao presente com os olhos marejados.

No carro, sozinha, abri a bolsa e encarei a aliança ainda presa ao meu dedo.

Ela ainda estava ali. Como um lembrete. Como uma algema. Como um símbolo de tudo o que suportei calada.

Eu fui leal. Eu fui digna. Eu fui a esposa que ele queria mostrar ao mundo.

Mas nunca fui feliz.

Nunca fui livre.

E nunca parei de sangrar por dentro.

Porque, mesmo depois de tantos anos...

Mesmo depois de tanta dor...

Era o nome do irmão dele que ainda ardia na minha pele.

E esse era o segredo que ninguém podia saber.

O céu estava cinza. Como se respeitasse o luto dela.

Jarbas abriu a porta do carro com a delicadeza de quem já conhecia aquele ritual.

— Jarbas… — a voz de Alinna saiu fraca. — Me leve lá, por favor.

— Senhora... já é a terceira vez essa semana.

Ela engoliu em seco, sem encará-lo.

— Eu... preciso chorar, Jarbas. E não posso fazer isso no carro. Nem na empresa. Nem mesmo na casa que não é minha.

Por favor. Eu só preciso... chorar.

Ele suspirou, vencido pelo amor e pela dor alheia.

— Sim, senhora.

Quarenta minutos depois, o carro parou num pequeno cemitério nos arredores da cidade. Não era um lugar nobre. Não havia túmulos luxuosos. Apenas o silêncio. E a saudade.

Ela desceu, o sobretudo apertado contra o corpo magro, e caminhou sozinha entre as lápides, com passos lentos e olhos já marejados.

Até parar diante de uma cruz de pedra com o nome incompleto. Apenas uma data.

E um vazio.

Alinna caiu de joelhos. E desabou.

— Oi, meu amor… — sussurrou com a voz trêmula. — Você está melhor do que eu, não está?

As mãos tocaram a grama úmida. Os dedos apertaram o solo como se quisessem cavar com as unhas. A dor antiga agora era uma ferida aberta.

— Eu nem tive a chance de te dar um nome… não é?

Nem de te contar sua história. De te embalar. De te defender.

Você me odeia por isso?

O choro engasgou o resto das palavras.

— Eu sei que sempre te peço isso, mas... por favor, me escute mais uma vez.

Me perdoa, filho.

Me perdoa por não ter conseguido lutar por você.

Eu te amei. Com tudo que eu era. E eu queria muito você. Mesmo que fosse só nós dois no mundo.

Ela soluçava agora, os ombros sacudindo.

— Mesmo que eu tivesse que ir embora sozinha… eu teria ido.

Mas eu... não consegui.

E agora... eu não vou mais poder vir aqui.

Não porque eu não te ame. Deus sabe que eu te amo.

Mas porque eu vou embora.

E eu juro… juro… que um dia eu te busco.

Pra te deixar perto de mim. Onde você deveria ter estado esse tempo todo.

Ela encostou a testa na pedra fria.

— Eu te amo, meu filho.

Adeus.

O silêncio se instalou.

Até que o choro rasgou tudo.

Foram anos de lágrimas engolidas, gritos calados, dores maquiadas por perfumes caros e sorrisos perfeitos.

Mas ali, ajoelhada diante do túmulo do filho que nunca pôde segurar, Alinna sangrava.

E Jarbas, parado a poucos metros, sentiu os olhos arderem.

Ele se aproximou devagar, como um pai que não sabe consolar uma dor que não tem nome.

Ajoelhou-se ao lado dela.

Com a mão trêmula, pousou sobre as costas dela.

Ficou em silêncio.

Só ali. Presente.

— Senhora… — murmurou com a voz embargada — se eu pudesse tirar essa dor da senhora… eu tirava.

Alinna se virou, sem forças, e chorou no ombro dele como uma filha órfã.

Jarbas, com os olhos úmidos, a abraçou com o mesmo carinho que sentia desde o dia em que ela entrou naquela casa com um vestido simples e um olhar cheio de sonhos.

Ele sabia.

Sabia da história que ela nunca contou.

Sabia do amor que ela foi obrigada a engolir.

Sabia da alma que ela enterrou junto com aquele pequeno túmulo sem nome.

E agora, tudo que ele podia fazer… era chorar com ela.

Silenciosamente.

Que amor é esse que foi capaz de morrer por mim? Que foi tão puro e tão doído?

Será que ele sabia que inferno seria e por isso me deixou?

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