Fico olhando para ela, que finge estar super concentrada ajeitando um arranjo no aparador. Mas não engana. Está nervosa. O jeito como ela ajeita a flor que já estava ajeitada me entrega isso de bandeja.
Enquanto isso, olho para minhas unhas perfeitamente feitas — uma das poucas heranças boas da minha vida na moda — e me pego pensando em tudo que deixei para trás.
O mundo fashion me fascinava, sim. Aquela vida glamourosa, os desfiles, as viagens... Foi ali que eu me reconstruí depois do acidente. Viajei, conheci culturas, aprendi línguas, descobri que comida tailandesa é uma mentira (aquilo não é comida, é tortura gastronômica). Mas, graças a Deus, nunca me mandaram para a África. Olha só, ironia da vida... E pensar que, anos atrás, eu até torcia para surgir um trabalho lá. Só para quem sabe, esbarrar em Santino. Cuidado com o que você deseja, Marina. Às vezes o universo leva a sério.
Balanço a cabeça, mando embora os pensamentos inconvenientes, e respiro fundo.
Sim, a moda foi meu por